Tuesday, March 03, 2015

NINGUÉM ESPERA QUE ELES SEJAM PERFEITOS

Espera-se, no entanto, que imponham a si próprios o cumprimento daquilo que impõem, enquanto membros dos poderes do Estado, aos seus concidadãos. O cumprimento das obrigações cívicas, e nomeadamente as obrigações fiscais ou para fiscais,  é imperativo para todos os cidadãos, mais ou menos imperfeitos porque ninguém é perfeito. Não se espera que sejam perfeitos mas espera-se que as suas condutas, enquanto governantes, não sejam o oposto daquilo que apregoam ou fazem apregoar.

Quem é que, desde que não seja adepto incondicional ou civicamente excluído, pode ouvir dizer - vd. aqui - "com muito à vontade" que "na sua vida já se atrasou com certeza muitas vezes, mas que quando o Estado lhe exigiu sempre pagou o que devia, que não tem nenhuma dívida ao fisco e que nunca usou o cargo de primeiro-ministro em seu benefício", sem concluir que neste discurso se insere uma confissão de um contribuinte relapso? Mas manifestamente exigente até com os contribuintes gregos?


Também hoje, em jeito de contra-ataque, foi recordado - vd. aqui - que o actual líder do PS, presidente da Câmara Municipal de Lisboa e candidato a primeiro-ministro, foi acusado em notícia publicada em 2000 (ou 2001) de incumprimento fiscal. Que,  obviamente, refutou.

Empate técnico?

5 comments:

Unknown said...

Não me parece que haja empate técnico.
Primeiro, a notícia sobre o PM é do Público e do jornalista Cerejo que é um bom jornalista de investigação e que tem feito peças sobre políticos dos vários quadrantes (como o reconheceu o Santana Lopes há pouco na SIC Notícias. É uma notícia verdadeira, como o confirmou o PM. A outra, não identifica a fonte, mas é do extinto Tal e Qual, jornal que não merecia grande crdibilidade.

Rui Fonseca said...


Obrigado pelo seu comentário, Isabel.
Como, certamente, sabe as últimas sondagens colocam os partidos do governo e o PS em situação de empate técnico.

As declarações de António Costa (o país está agora diferente ...) pareciam ter dado a Passos Coelho uma vantagem argumentativa na campanha que já começou.

Eis senão quando, qual submarino que emerge, saltam para a opinião pública as notícias dos incumprimentos do sr. Passos Coelho. E, logo a seguir, as do sr. António Costa.

São mais fiáveis as notícias do Público do que eram as do Tal & Qual? Talvez.

Mas o que resta disto tudo é um indisfarçável incómodo das partes envolvidas.
E uma suspeita, que se radica cada vez mais na imaginação do cidadão comum, de que estamos a ser governados por gente nada rigorosa com os seus deveres cívicos.

IsabelPS said...

O que eu temo é que, confrontado com estes "argumentos" e "contra-argumentos", o cidadão comum encolha os ombros, pense "estão bem uns para os outros" e dê ainda menos valor a esse tal rigor no cumprimento com os deveres cívicos. Assim como assim, vai ter de escolher entre um e outro, não é? Portanto vai fazê-lo com base noutros factores, e esse rigor descerá ainda mais na hierarquia dos valores que orientam a sua escolha.

Rui Fonseca said...

Mas é precisamente por isso, por esse ambiente de suspeição que o empate técnico promete subsistir.

Do meu ponto de vista, e acabo de escrever mais uma vez uma nota sobre o assunto, os eleitos ou nomeados para cargos governativos deveriam apresentar prova de conformidade das suas obrigações fiscais antes de tomarem posse.

Tal não aconteceu nem estou convencido que venha a acontecer no futuro. Mas a lei da rolha, implicitamente advogada por Helena Garrido no Negócios, é inadmissível numa sociedade livre.

De modo que, agora, é bom que estas, e outras, questões de civismo se discutam para prevenção ou minimização de tais casos no futuro. E o cidadão comum, isento de peias partidárias, acabará por discernir de que lado há menos imperfeições, já que perfeito ninguém é. Quanto aos outros, os partidários, estando formatados não podem visualizar noutra perspectiva para além daquela em que foram arrumados sabe-se lá como.

Unknown said...

Concordo que, urgentemente, há que instituir mecanismos de controlo prévio dos políticos. Não vejo, contudo, avançar-se, nesse sentido. Tudo se passa como quando se critica o nosso sistema político por não permitir novas eleições num curto espaço de tempo e até hoje nada mudou (enqunato que a Grécia fez eleições e mudou de governo num curto espaço de tempo).
Se os políticos não avançam e não conseguem entender que isso é premente e requerido pela sociedade, parecendo assim gostar da cada vez menor legitimidade que têm face ao aumento e nível de abstenção, restará aos cidadãos movimentarem-se e intensificarem a sua acção cívica, sob pena de esta nossa democracia se esvaziar para níveis inaceitáveis.
Espero que estes factos levem a que se concretize o seguinte:
"Nunca pensei que as eleições se pudessem transformar numa reivindicação de saúde pública. Na composição do governo e do parlamento, não esqueçamos."in http://interesseseaccao.blogspot.pt/2015/03/dois-pedros-quantas-medidas.html