É assim: Hoje só cá estiveram os senhores mas para amanhã e para o fim-de-semana estamos completos. E não somos só nós, em Montalegre, e até em Chaves, vai ser difícil arranjar ainda quarto para estas três noites. É sexta feira, 13, dia das bruxas, e Montalegre enche-se de gente. Quando o tempo ajuda, ou uma terça feira 13 calha no período de Verão, podem ajuntar-se junto ao castelo mais de cinquenta mil pessoas. O que é que há por lá? Para lhe ser franca nunca lá fui. Aliás, eu não gosto destas coisas, é certo que trazem movimento, as pessoas gastam dinheiro, fala-se que cada sexta feira 13 em Montalegre movimenta à volta de um mihão de euros, para mais não para menos. Nós, aqui, também ganhamos, mas eu não gosto daquilo. A tradição das bruxas é muito antiga no Barroso mas ganhou projecção desde há uns oito a dez anos para cá. O grande animador foi, e ainda é, o Padre Fontes, de Vilar de Perdizes. Parece que há muita música, há umas rezas, há bebidas, a queimada, que me dizem ser uma mistura de aguardente com frutos, não sei que frutos, lançam-lhe lume, aquilo arde um bocado, e bebem. Se há muita bebedeira? Sei lá! Deve haver, não sei. Para as rezas vem um bruxo da Galiza, enfim, há quem goste. Vem gente de todo o lado, do Minho, de Braga, do Porto, vêm até autocarros de Lisboa. Este ano é farto em dia das bruxas: são três. A primeira foi o mês passado, amanhã é a segunda deste ano, mas depois ainda há mais uma em 13 de Novembro.
"A noite das bruxas, ou noitadas de feitiçarias, é uma tradição quase esquecida celebrada em Montalegre e Vilar de Perdizes nas sexta-feiras dia 13. A celebração começa com uma ceia das bruxas em que é servido caldo de urtigas entre outros pratos. Segue-se um ritual em que se faz uma reza "Com esta colher levantarei labaredas deste lume, que se parece com o Inferno. Fugirão daqui as bruxas". Depois segue-se a "grande queimada das bruxas",em que prepara-se e serve-se uma poção mágica à base de aguardente aquecida no caldeirão chamada de "queimada do Outro Mundo". Enquanto a poção mágica é aquecida no caldeirão lê-se o esconjuro: "Sapos e bruxas, moucos e corujas, demônios, trasgos e dianhos, espíritos, corvos, pegas e meigas, feitiços das mezinheiras, lume andante dos podres canhotos furados, luzinha dos bichos andantes, luz de mortos penantes, mau-olhado, negra inveja, ar de mortos, trovões e raios, pecadora língua de má mulher casada com home velho. Vade retro Satanás prás pedras cagadeiras!"
Outras duas bebidas mágicas preparadas e servidas durante a "grande queimada das bruxas" são os "Vinhos Benzidos pelo Diabo" e o "Licor Levanta o Pau". A celebração da queimada remonta a mais de cinquenta anos e tem origem "[n]um ritual que se fazia nos invernos para curar gripes, catarros, resfriados. "Era aguardente queimada numa caçarola. E, como não havia luz eléctrica, mas, apenas, luz de velas, toda a gente gozava com as caras tétricas que a nossa cor amarelada sugeria, faces de desenterrados, de bruxas", informa o padre de Vilar de Perdizes." - c/p aqui
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