Lampreia? Não gosto. Tem um aspecto esquisito. Não. Só de a ver não me atrevo, sequer, a provar. Nunca me arrisquei, não consigo, que queres? E aquele molho! Não sei como alguém consegue tragar uma coisa daquelas.
O que é que há que se coma para além da lampreia? Só bifes? Bom, então traga o bife, que não seja muito duro, se faz favor.
Até há poucos anos os apreciadores do ciclóstomo eram relativamente poucos, a lampreia dava para todos, ainda que tivessem que esportular mais que o costume. De repente, por razões com que, tanto quanto se saiba, ainda nenhum académico compôs tese de doutoramento, começaram a multiplicar-se por esta altura do ano cartazes em restaurantes a publicitar que lá dentro há lampreia. Do Minho, reclamam muitos.
Que alterações se observaram nos mecanismos cerebrais dos portugueses para esta mudança radical que transformou em delicatessen o que antes era simplesmente repugnante? Não sabemos. O que sabemos é que a procura aumentou tão desmesuradamente que logo se impôs a dúvida: de onde vem agora tanta lampreia? E outra ainda: este súbito e acentuado aumento da procura não provocou um aumento dos preços, por quê? Muito simplesmente porque passaram a ser importadas toneladas de lampreia de França e do Canadá, pelo menos, onde a lampreia não motiva os grastónomos locais.
E é boa?
Há quem diga que é melhor, até. Mas também há quem diga o mesmo da sardinha congelada e assada em Dezembro. Gostos, são discutíveis. Mas o que é indiscutível é o facto desta lampreia importada não ter o gosto da lampreia capturada nos nossos rios. Melhor dizendo: não sabe a lampreia. Talvez por isso esteja a tornar-se tão popular.
Há gente assim:
- E de peixes, gostas? Há gente assim:
- Gosto.
- De qual gostas mais?
- Gosto mais de pescada, porque sabe menos a peixe.
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