Tuesday, March 24, 2015

SE ELE CANTASSE, TALVEZ NÃO GAGUEJASSE*

O sr. Carlos Tavares, presidente da CMVM, e aplaudido cantor amador quando enche o peito, está a depor desde as nove horas da manhã de hoje numa segunda volta perante a CIP ao caso BES. E é enervante ouvi-lo: outra vez inseguro, titubeante, trémulo na voz e na expressão, incapaz de dar respostas convincentes às perguntas que os deputados lhe fazem mesmo quando nos apercebemos que é muito verosímil o que diz ou muito pertinente o que propõe. Parece-se com o aluno que presta provas sobre matéria que colou na memória apressadamente na véspera. Como é que este homem que assumiu diversas responsabilidades políticas, incluindo a de ministro da Economia, pode agora mostrar-se tão pusilânime quando responde sobre actos e factos que não lhe deveriam impor a mínima hesitação nas respostas?

"A iliteracia financeira dos pequenos investidores mas também dos bancários (que venderam o papel comercial aos balcões do BES) está também na origem do que se passou", disse Carlos Tavares, repetindo um discurso obtuso com que se refugiam os principais responsáveis pelos escândalos financeiros que têm acontecido, e nada garante que não estejam a acontecer neste exacto momento. Se a CMVM deu luz verde à divulgação do prospecto de colocação do papel comercial do GES que iludiu os investidores e, pelos vistos, até os vendedores bancários, ou não analisou o seu conteúdo ou não entendeu o que leu, dando prova pública de uma intolarável "iliteracia financeira" por parte da CMVM ou de um laxismo criminoso.

Pergunta-lhe um deputado: Quem é que nos garante que, neste momento, não estejam a ser realizadas nos bancos operações do tipo daquelas que aqui estamos a analisar?
Responde Carlos Tavares: Temos de confiar nos bancos onde colocamos os nossos depósitos, não podemos colocar-nos numa posição de sistemática desconfiança do sistema. 
Mariana Mortágua comentaria pouco depois: "de todas as pessoas e instituições as que deveriam desconfiar dos bancos são a CMVM e o Banco de Portugal. Aliás fazem-no (deveriam fazer) para que todos os outros possam confiar. Não parece que a confiança seja um princípio de regulação. Temos de encontrar os encaixes institucionais que não depender da confiança".
Comenta Tavares: Eu não disse isso, senhora deputada.

Pois não.

Se Ricardo Salgado mente, mente convictamente. Os Carlos Supervisores gaguejam mesmo se são sinceros.
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*Por que o gago não gagueja quando canta?

1 comment:

Fenix said...

Confiar nos bancos é, afinal, um dogma. E depois, seja o que "Deus quiser"!