Sunday, March 22, 2015

A DESCONSTRUÇÃO EUROPEIA

A construção europeia assemelha-se a um daqueles edifícios embargados, algumas paredes por levantar, o telhado meio coberto, sujeitos à erosão dos ventos e das chuvas, em risco de soçobrar perante um vendaval mais forte. As inquietações gregas têm levado muitos politólogos e outros com   devoções ou ofícios aparentados a presumirem que uma eventual saída da Grécia da zona euro e, por tabela, da União Europeia desequilibrará irremediavelmente as fundações do projecto e atirará a médio prazo com o conjunto ao chão. 

Não penso que o Grexit venha a acontecer. A Grécia ocupa uma posição geoestratégica por demais determinante no jogo político de influências entre o ocidente e o leste para ser deixada à deriva à procura do abraço de Putin ou de outro qualquer czar russo no futuro. Por outro lado, qualquer retoma de desenvolvimento da construção da união europeia não pode abstrair-se da localização das raízes mais profundas da civilização ocidental sob pena de lhe vir a faltar sustentação histórica suficiente. Se a queda do império grego de Bizâncio no sec. XV e a submissão dos gregos ao domínio turco otomano durante 350 anos lhe induziu traços indeléveis de uma cultura diferente, e se o Grande Cisma da cristandade os tinha voltado para leste, a unidade europeia tem de fazer-se pelo reposicionamento da Grécia no seu seio e nunca pela dispensa dos gregos nessa unidade. 

Mas admitamos que, por cegueira europeia e abstenção norte-americana, que considero altamente improvável, o Grexit se consuma. Cai o edifício europeu? Cairá, mas levará algum tempo a cair, apesar da aceleração e da dimensão que os factos políticos e os actos bélicos ganharam depois do princípio do século passado. E, no entanto, as ameaças de desmoronamento do edifício europeu são agora mais fortes que nunca. Hoje, os franceses votam na primeira da ronda das eleições locais que, muito provavelmente, confirmarão o alargamento da presença da FN de Marine Le Pen em todo o hexágono francês. As sondagens apontam para 30%, que se vierem a ser confirmadas, ou até superadas, nas urnas colocarão Marine em posição de conseguir chegar ao Eliseu dentro de dois anos.

Se isso acontecer, e pode acontecer, a União Europeia será submetida a um safanão de consequências imprevisíveis e, em qualquer caso, o projecto europeu concebido pelos fundadores será radicalmente alterado. A eventual separação da perna grega tornará a União Europeia perigosamente coxa; a saída do braço britânico tornará até ridícula a sua designação; a saída francesa será um ataque ao coração europeu. Entretanto, terá aumentado a força centípetra a leste, a Hungria já está há muito tempo mais lá que cá.

Merkel e os seus pais fiéis seguidores têm agora menos de dois anos para reforçar o edifício e colocá-lo  à prova de qualquer sismo anti democrático que faça voltar o fantasma da guerra de novo ao território europeu. A actual ebulição grega, se não tiver outro mérito, poderá pelo menos obrigar os europeus à inevitável opção entre a subsistência dos nacionalismos que lhe minam a unidade ou a federação mínima que, de forma suficiente, garanta a solidariedade que cimente uma unidade democraticamente sufragada.

1 comment:

Reaça said...

Ninguem quer o Euro, nem Inglaterra, nem USA, nem a Rússia.

Os gregos jogam com tudo contra a Alemanha.

A Alemanha está novamente contra o mundo inteiro.

A Alemanha atrai inimigos.