Wednesday, March 18, 2015

NÃO PERCEBO

Ontem, o sr. Jeroen Dijsselbloem, ministro holandês das Finanças e presidente do Eurogrupo admitiu publicamente que, estando a Grécia à beira de ficar sem dinheiro e ter de pagar 350 milhões de euros ao FMI até depois de amanhã, os alemães estarão a pretender que aos gregos seja administrada a receita imposta a Chipre: fecho dos bancos e controlos de capital, com o suspeito objectivo de um corte nos depósitos a favor das finanças públicas gregas, ainda que as razões avançadas sejam relacionadas com um terceiro resgate. A notícia tinha sido avançada pelo Spiegel e as declarações de Dijsselbloem  instantâneamente publicadas em todo o mundo. Vd., p.e., aqui e aqui ou aqui.

O que é que faz um grego ao ouvir estas declarações, se tiver dinheiro que valha um salto? Salta.
Só não saltarão os que já saltaram ou não saltam porque têm a perna demasiado curta. Ainda há dias, e na sequência da expectativa da vitória do Syriza noticiaram os media uma fuga maciça de capitais, depois reforçada com a confirmação da vitória e a constituição de um governo heterodoxo, segundo os padrões ocidentais. 

Não percebo como se admite publicamente uma acção destas que, obviamente, terá imediatamente espoletado um movimento que pretende vir a evitar. Se a intenção é proceder a um haircut dos depósitos e fundos guardados pelos bancos, o governo grego tem sempre a possibilidade de, se for compelido a exercê-la, a impor essa decisão sobre os fundos a atingir registados nos bancos, p.e, no   início deste ano. Afinal o confisco não é uma forma de prepotência menor que a retroactividade das leis. Anunciando esta hipótese, muito grego estará a esta a hora a coçar a cabeça lamentando-se de não se ter  decidido há mais tempo. Claro que terá de pagar por isso: as taxas pagas por bancos em países de baixo risco (a Alemanha é já há muito tempo a ganhadora destas encrencas em que ela mesma lidera)  são, toda a gente sabe isso, negativas. Cerca de 2,2 biliões de euros de dívida pública já pagam, vd. aqui, taxa de juro negativa. Portugal emitiu hoje 1250 milhões a uma taxa, vd. aqui, abaixo de 0,1%.

Por outro lado, ou do mesmo lado?, o FMI diz, vd. aqui,  que "a Grécia é o país mais incapaz de se ajudar em 70 anos de história". Com ajudas destas como pode a Grécia pagar até depois de amanhã 350 milhões do que deve ao FMI.

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Correl. - Casal alemão pagou a sua "parte da dívida" à Grécia por danos da II Guerra

5 comments:

Pinho Cardão said...

Oh Rui, nada de confundir a substância com o acidente, a causa com o efeito,
Pelo menos desde o Cavalo de Tróia que os gregos se tornaram mestres em combater traiçoeiramente amigos e inimigos. Não vão mudar agora.

Rui Fonseca said...


Obrigado, António, pelo teu comentário.

Mas, confesso, fiquei na mesma, talvez por o teu comentário ser muito metafórico para o meu entendimento.

Substancialmente, para utilizar o termo que usaste, continuo sem perceber como se anuncia a possibilidade de uma medida que
necessariamente já estará a suscitar aquilo que pretende evitar: a fuga de capitais.

Ou não?

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
A fuga de capitais já vem de há muito.
E o que me parece metafórico é dizer que ainda lá permanecem capitais à espera de oportunidade de fugir...

Rui Fonseca said...

Também penso que assim é.

Mas se é assim, o que pretendem as sumidades do Eurogrupo, e nomeadamente o seu presidente, com estas declarações?

Brincar com o fogo?

Antº Rosinha said...

Todos sabem que os zorbas jamais pagarãp seja o que fôr.

Mesmo que pudessem não o faziam.

Dinheiro nas mãos dos gregos é manteiga em focinho de cão.

A Europa, toda rota há dezenas de anos, perdeu-se de vez.

A Inglaterra sempre no lugar certo, imfelizmente.

O Euro tem muitos inimigos, atraídos pela alemanha.