"Pagos por um serviço que atraiçoou alguns depositantes desprevenidos
e os contribuintes portugueses em geral, que responsabilidades lhe cabem
na participação de construção destes logros? Nenhumas. " -
Os banqueiros e as máscaras
O Presidenta da República e o Primeiro-Ministro são considerados culpados de terem com os seus discursos induzido investidores a participarem no último aumento de capital do BES. Pinto da Costa foi peremptório:
"Senti-me vigarizado" por Passos Coelho e Cavaco Silva no caso BES" (vd. aqui). Muitos, sem a notoriedade pública do patrão do FCP, prometem unir esforços para serem ressarcidos das perdas resultantes de uma trapaça em que foram apanhados. Nunca, que me recorde, algum discurso político obrigou a qualquer ressarcimento não político, o ajuste de contas com os políticos é contado em votos dos eleitores.
Ontem, soube-se que a actual administração da PT SGPS pretende informações do Banco de Portugal para sustentar a imputação de responsabilidades ao assessor financeiro e, eventualmente, reclamar o pagamento da dívida da Rioforte junto do Novo Banco. Neste caso, há uma responsabilidade objectiva de quem assessorou, e, assessorando, ludibriou porque escamoteou o conhecimento que tinha, ou era obrigado a ter, da situação financeira do tomador do empréstimo.
Acerca do tema de hoje - a inimputabilidade daqueles que pela sua condição de ídolos de grande parte da opinião pública induzem os seus fans a tomarem opções que mais tarde lhe causam prejuízos graves - já anotei alguns apontamentos neste caderno. Curiosamente, quase todos os bancos portugueses que, de um modo ou outro, estiveram, ou ainda estão, envolvidos em escândalos financeiros, recorreram a ídolos do futebol, do espectáculo, da cultura até, para venderem os seus produtos mais ou menos tóxicos.
- O Montepio, ao Gato Fedorento, que depois se transferiu para a PT, com o resultado final que agora se conhece.
- O BPN, a Figo e Catarina Furtado
- O BCP, a Mourinho, e a Joe Berardo, nos tempos em que ainda eram todos bons amigos.
- A CGD a Filipe Scolari e Catarina Furtado
- O BPP, a Manuel Alegre, Pacheco Pereira, e vários outros
- O BES, a Cristiano Ronaldo.
Ninguém, que eu saiba, até hoje levantou a questão da responsabilidade civil destes prescritores de receitas falsas. E sei que, dizendo isto, corro risco de ser considerado lunático. Nunca ninguém se lembrará alguma vez de acusar e exigir ser ressarcido por Cristiano Ronaldo mesmo que tenha envolvido todas as suas poupanças na compra de obrigações do GES por cego seguimento da sugestão do seu ídolo. Que cobrou, e vai continuar a cobrar, agora pelo Novo Banco, uma maquia que muitos pequenos investidores não conseguirão poupar durante uma vida inteira de trabalho. Nem deixará de lhe bater palmas pelas suas habilidades a pontapear ou cabecear a bola.
Cristiano Ronaldo não sabia, nem era suposto que soubesse, o que vendia quando se dispôs a dar cara pelo BES e pelos seus produtos. Num mundo globalizado pelos media, os ídolos são inimputáveis. Aliás, os funcionários bancários do BES, agora no Novo Banco, não sabiam, - vd.
aqui, a generalidade dos bancários, portugueses ou estrangeiros, não sabe, ou finge que não sabe, de que componentes são formados os produtos financeiros que vendem. Resumindo: Ninguém sabia, ninguém sabe, a ninguém podem ser imputadas responsabilidades por venderem produtos financeiros vulgarmente designados tóxicos, que podem levar famílias à falência. Deveria competir às entidades supervisoras, neste caso ao Banco de Portugal, a análise e certificação de que os produtos à venda não são tóxicos e proibir a venda de todos os outros.
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Mas não há produtos financeiros que não sejam tóxicos ..., dizem-me
- Não há mesmo?
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Não., garantem-me
- Nesse caso, que seja obrigatória a indicação em letras garrafais, como nos maços de tabaco, independentemente da marca e do fabricante:
"Este produto pode levá-lo à ruína".
- E por que não?