Monday, April 09, 2012

UMA CIÊNCIA ALEGRE

Thomas Malthus (1766-1834) celebrizou-se por ter previsto a insustentabilidade da progressão geométrica do crescimento demográfico perante a progressão arimética dos meios de subsistência. Thomas Carlyle (1795-1881), historiador, considerou que se a ciência económica não ia além de previsões sinistras, não passava de uma ciência triste (dismal science). O apodou colou-se de modo indelével à teoria económica em grande medida porque os economistas continuam mais propensos a prever desastres do que a construir instrumentos que os evitem. Ou assim parece.

Malthus enganou-se? À primeira vista, sim. A população mundial cresceu exponencialmente, como Malthus previu, mas os meios de subsistência cresceram ainda mais. E, no entanto, a fome é ainda a primeira causa de mortalidade em todo o mundo: paradoxos de um modelo de desenvolvimento humano que se reconhece errado mas difícil de corrigir apesar de alguns progressos observados assinaláveis.  

O desenvolvimento humano das sociedades encontra-se desde sempre intimamente ligado à prosperidade económica atingida, daí decorrendo a ideia prevalecente de que se o dinheiro não dá felicidade, contribui muito para ela. Camilo terminava "Onde está a felicidade", editado pela primeira vez em 1856, assim: «Em suma, queres saber "onde está a felicidade?" / -Se quero!!…/ - Está debaixo de uma tábua, onde se encontram cento e cinquenta contos de réis.» -

Opondo-se à ideia que o crescimento económico é condição necessária, ainda que não suficiente, para a realização da condição humana, porque só ele permite criar emprego e dar um sentido sociológico à vida humana, alguns economistas têm vindo a propor outras formas de avaliar esse sentido de realização que não imprimem aos indivíduos o sentimento de que o crescimento do PIB é alfa e ómega da felicidade humana. 

Sobre este assunto tenho colocado neste caderno alguns apontamentos (localizáveis clicando na etiqueta "felicidade") a última das quais, aqui.

Esta semana o Economist dedica aqui aos trabalhos destes economistas (que Mr. Thomas Carlyle consideraria "gays" - por oposição aos dismal - se o designativo não tivesse sido apropriado para outros propósitos) um artigo a propósito de um estudo recentemente publicado - World Happiness Report - com a chancela, entre outras, da prestigiada Universidade de Columbia.

E se Camilo, a quem o dinheiro nunca prometeu muito, rematou a sua novela com o encontro da felicidade com cento e cinquenta contos de reis debaixo do soalho, Pearl Buck (1892-1973), Nobel da Literatura em 1938, em Onde mora a Felicidade? idealizou para Madame Wu (reconhecidamente muito rica) uma perspectiva de felicidade bem diferente: " Ao completar quarenta anos, Madame Wu leva a cabo a decisão que tem planeado há já algum tempo: comunica ao marido que após vinte e quatro anos de casamento não deseja ter mais contacto físico com ele e pede-lhe que tome uma segunda esposa. A Casa de Wu, uma das mais antigas e reverenciadas da China é tomada de surpresa e indigna-se com esta decisão, mas Madame Wu não se deixa dissuadir e escolhe uma jovem camponesa para tomar a sua vez no leito conjugal. Elegante e distante, Madame Wu planeia esta alteração na sua vida da mesma forma como sempre geriu uma casa onde co-habitam mais de sessenta familiares e criados. Sozinha nos seus aposentos, aprecia a sua liberdade e finalmente tem a possibilidade de ler os livros que lhe estavam vedados. Quando o seu filho inicia lições de inglês, percebe que também gostava de aprender esta língua e em breve está também a aprender com o Irmão André, um padre progressista que irá alterar a sua vida."

Já para Schmidt, protagonizado por Jack Nicholson (About Schmidt), quando ficou viúvo, a primeira experiência de felicidade após o desenlace foi a possibilidade de urinar sem que a mulher lhe ralhasse por causa do seu excesso de desleixo ou da sua habitual falta de pontaria...

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Act. Nem felizes nem deprimidos, os portugueses vão andando...

2 comments:

progressão arimética ? said...

isso come--se?

Banda in barbar said...

aliás os princípios de economia política 1820? e as definições em economia política 1827...o gajo que inventou o con ceito da dívida injusta foi em 1927 loggo esta é facilis

foram mais importantes do que essa afirmação Buffoniana alicerçada em outros tantos antes dele e apenas posta em princípio em 1798....

já daniel dafoe (o do robinson crosué destilava catalinárias sobre a falta de recursos em populachos em crescimenta exponentialis e sem cialis