M João,
Pergunta-me o porquê deste título estranho. Não sei. Tento decifrar a explicação do curador da exposição (1ª. foto, ampliar para ver) e fico, vá lá, quase na mesma. O que é muito normal. O artista contemporâneo pretende-se sobrenatural, a começar pelo título que dá às obras, porque sabe que o ser humano extasia-se perante o incompreensível. É esta atitude temente perante o inexplicável que explica, parece-me, o comportamento circunspecto que se observa no ambiente quase religioso de um museu ou de uma exposição de arte abstracta. Neste caso, a intenção da abstracção começa e acaba no título. Um dos fotógrafos escolheu como tema central da sua participação na exposição a paisagem degradada que tanto pode encontrar em Guimarães como em muitos outros lados do mundo (e em Guimarães, felizmente para os vimarenenses, nem é muito evidente); outro manipulou pequenos planos, imagens e tons, dificilmente identificáveis com Guimarães, outro usou uma técnica (não original, aliás) de fotomontagem de que coloquei um exemplo (o único disponível no site da exposição) no apontamento anterior; outro preferiu os detalhes, o close up, da arquitectura do centro histórico, sobretudo.
Este último escreveu em inglês um texto curioso, que coloco no fim, e está traduzido a seguir:
Faço as minhas fotografias. Penso sobre a Europa. Penso em Portugal. Eles falam-me aqui sobre todo o dinheiro vindo da Comunidade Europeia. Eles investiram em autoestradas que agora atravessam Portugal. Eles pagam a agricultores para não produzir. Enquanto eu aqui estou há um ataque terrorista em Oslo, a duas horas de minha casa, na Suécia. Entre 50 a 100 pessoas foram dadas como mortas. Na internet, no meu quarto de hotel, vejo as reportagens e vídeos feitos a partir de telemóveis. Penso sobre as casas que vi aqui e sobre as pessoas que as habitam. Toda a sua esperança e os seus sonhos. Ainda aqui, em Guimarães, a minha namorada sofre um aborto espontâneo, na noite portuguesa. Sangue nos lençóis. Qualquer entendimento ou representação do mundo à minha volta parece-me impossível. O Pedro leva-me a um homem que tem dois enormes bois. Eles têm uns cornos impressionantes e a casa do homem está cheia de taças e prémios ganhos em concurso. Eu levo o carro para dar umas voltas e ver. Vejo o novo. Vejo o velho. Os dpois não se parecem encontrar. O rio está sujo. Mas eles dizem-me que está menos sujo do que antes e em todo o lado há fábricas de têxtil abandonadas. Penso em dinheiro, poder e fado. Faço as minhas fotografias.
JH Engström
Guimarães, Julho de 2011
Conto colocar amanhã os comentários que este texto me sugere.
1 comment:
Olá Rui,
O concerto foi fabuloso, pena não terem conseguido ir. Se quiser aconselho a compra do CD com a sinfonia nº 7 do Chostakovitch pela Gustav Mahler Jugendorchester; não tenho a certeza de existir esta gravação com esta orquestra, mas tente.
Esta sinfonia foi composta e estreada em Leninegrado durante o cerco à cidade pelas tropas alemães e, é fantástica.
Quanto à sua amabilidade em esclarecer esta minha questão "paisagens transgênicas" foi tão grande, que não merecia ficar sem umas palavrinhas da minha parte.
Peço desculpa de só agora o fazer mas deve-se exclusivamente à irregularidade com que me dirijo a esta máquina, "o computador".
Percebi o que lhe foi dado observar e concluir (?) sobre o tema da exposição e estou de acordo consigo quando diz que o artista contemporâneo pretende-se sobrenatural, porque sabe que o ser humano fica extasiado perante o incompreensível.
Eu, como tenho a ideia que eles querem é testar a nossa capacidade de aceitação das suas loucuras, fico sempre na retranca muito embora tente compreender arranjando alguma justificação para o que vejo.
Agora apreciar, a fotografia de uma paisagem, uma escrita, como um "organismo geneticamente modificado"? Não, essa não. Podemos talvez pegar na palavra "modificar", e o artista que utilizou a montagem ou a foto montagem e tentou dar uma nova imagem ao que viu ou fotografou, poderá ser aceitável; muito embora ache tudo isto de um abstratismo duvidoso; e se vamos pegar no texto então penso que não tem ponta por onde se pegue nem sei sequer como interpretá-lo.
Depois, e para finalizar, julgo a exposição um pouco a despropósito e fora do contexto de uma capital europeia da cultura que se quer, julgo como enaltecedora da mesma.
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