Friday, April 27, 2012

O MESTRE DO BANDO

Acerca da polémica levantada por uma proposta de nomeação para um lugar no Tribunal Constitucional de um candidato sem credenciais reconhecidas pelos mais destacados constitucionalistas do sítio, já foi tudo dito (vd. por exemplo, aqui). O pretendente não é constitucionalista, foi efemeramente juiz, presidiu à Câmara do Cartaxo, foi secretário de Estado Cultura e da Justiça nos governos antececedentes, actualmente é advogado, está sob suspeita de envolvimento no negócio do campus da justiça, segundo esta notícia.

O que é pode justificar a insistência do partido proponente e a persistência do proposto na candidatura a um lugar que, parece ao senso comum, deve ser preenchido por especialista na matéria e isento de suspeitas? Se num hospital há uma vaga para um especialista de cirurgia cardiotoráxica seria motivo de chacota que se candidatasse ao lugar um psiquiatra. Ou um fisioterapeuta.

Na tropa (à moda antiga; não sei se a moda continua a mesma) costumavam os sargentos incumbidos do recrutamento dos mancebos para as diferentes especialidades escolher para enfermeiros os que na vida civil tinham prática de mecânica de automóveis. E a razão era esta: de mecânica já eles percebiam, e em caso de emboscada, um mecânico reconvertido em enfermeiro dava ao pelotão uma polivalência impossível de garantir de outro modo. 

E havia também aquele aprendiz de saxofone, que por lhe faltar fôlego ou não se entender com as semifusas, experimentou a percussão, sem sucesso, e acabou por ser proposto para chefe da banda.
E aquele tipo que, porque não se ajeitava na defesa, nem no meio campo nem no ataque, era sempre remetido para guarda-redes.   

Afinal, com alguma reflexão mais aturada, talvez a polémica seja injustificada e o candidato plausível.

No comments: