Quatro dias depois de um conjunto de personagens públicas terem anunciado e concretizado não comparecerem na Assembleia da República ainda ouço na televisão o inevitável professor Marcelo ser chamado a responder à questão que abalou as celebrações de Abril: Foi ou não foi o desejo de protagonismo que levou os contestatários a não comparecer?
Marcelo, à semelhança da generalidade dos comentadores da praça, não aprova as não comparências mas considera que não foi a busca de protagonismo que motivou as suas decisões. E porquê? Porque todos eles, uns mais que outros, são sobejamente conhecidos para pretenderem mais protagonismo. Aliás, essa foi a resposta dada por Mário Soares a Passos Coelho quando este (sem nomear a quem se dirigia) disse (e não devia ter dito) que as anunciadas ausências decorriam do normal desejo de alguns quererem protagonismo em ocasiões destas.
Marcelo há muito que iniciou a sua campanha como candidato às próximas eleições presidenciais e, para o efeito, dispõe de palco duradouro e bem remunerado. Não lhe convêm posições públicas fracturantes e precisa de votos à esquerda do seu partido. Por tal motivo, nunca neste, como em casos com configurações semelhantes, lhe interessarão interpretações que passem para além do óbvio à primeira vista.
Porque há outra perspectiva pelo menos tão óbvia como a mais politicamente correcta.
É óbvio que, salvo muito raras excepções, uma personagem pública (da política, do futebol, da televisão, etc.) nunca considerará, enquanto puder, que o seu protagonismo é suficiente enquanto ele não chegar ao fim. Do mesmo modo que um ricalhaço nunca abdicará de procurar mais fortuna mesmo que não precise de mais nenhuma.
Precisa um multimilionário de ser mais rico? Precisa pela sua atitude de necessidade incontida de mais riqueza.
Precisa Mário Soares de mais protagonismo? Precisa pela sua atitude incontida de intervir publicamente mesmo que algumas dessas intervenções possam ser geralmente reprovadas.
Dos protagonistas do 25 de Abril, recordo-me de apenas um, que após ter cumprido o papel principal que lhe tinha sido atribuído nas acções militares desse dia, dispensou todas as oportunidades e honrarias, licenciou-se em Ciências Políticas e Sociais, foi transferido para os Açores em 1979 e colocado dois anos depois como comandante do presídio militar de Santa Margarida.
Chamava-se Fernando José Salgueiro Maia, morreu há 20 anos, a 4 de Abril.
Ficará na história como o herói maior daquele dia em que mudou Portugal.
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