"No creo en brujas, pero que las hay, las hay"
As conspirações existem, e constatam-se pelos seus efeitos. Mais ou menos como as bruxas. Podemos não acreditar nelas mas acabamos por reconhecer que andam por aí.
Quando as agência de rating começaram a colocar-nos nas bocas do mundo, não supus que elas fossem comandadas por interesses para além daqueles que decorrem de serem remuneradas, ainda que principescamente, por serviços de análise financeira de reconhecido interesse geral. Uma apreciação que se aplicava, por razões idênticas, ao restrito número de empresas internacionais de auditoria, que se restringiu mais ainda com as falências fraudulentas, de que o caso Enron foi o mais mediático, e onde a conivência da Arthur Andersen ditou a sua extinção.
As notações triple AAA atribuidas a fundos de investimentos financeiros que se vieram a revelar fundos burlados quando a bolha subprime rebentou, desacreditaram-lhes temporariamente as competências mas não lhe abalaram a notação na honestidade de processos e intenções.
Hoje, e no rescaldo da atribuição da notação "lixo" à dívida da República Portuguesa e, por tabela, às mais diversas entidades, de um modo ou de outro ligadas à vulnerabilidade das nossas finanças públicas, a indignação que se levantou é muito legítima porque, claramente, agora, a Moody´s, ao fazer este anúncio, sem que nenhum facto novo negativo fosse conhecido, e na sequência de um compromisso assinado por representantes de 80% dos eleitores portugues com o FMI, o BCE e a União Europeia, mostrou que serve interesses particulares inconfessáveis.
Mas é também muito legítimo que Portugal pergunte aqueles com quem assinou um compromisso que pensam eles fazer relativamente a esta posição hostil e gravemente onerosa da Moody´s que, objectivamente, altera os pressupostos que estiveram na base do acordo assinado.
Porque, se a troica nos atribui uma ajuda com o compromisso de fazermos o pino, se um terceiro nos coloca uns pesos tremendos nos pés, a obrigação de pinar onde vai parar?
O Governo português deveria enfrentar a troica com esta alteração das circunstâncias.
1 comment:
O capitalismo é mesmo assim. As agências de rating são apenas um instrumento do sistema, não o sistema. De modo que adianta nada verberar as ditas, se mantivermos o sistema; mesmo que o sistema admitisse abdicar desse instrumento, por obra de uma (imprevisível) indignação dos nossos governantes (i.e., banco central europeu, banco europeu de investimento, comissão europeia e, vá lá, chefes de governo), o sistema sempre encontraria outro instrumento de manipulação.
É bom lembrar que, derrubado o capitalismo de estado na Europa, o capitalismo privado se sente absolutamente livre para o regresso à idade das trevas.
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