Saturday, January 31, 2009

BUY AMERICAN

As situações de aperto nunca foram boas conselheiras para a mais pacífica distribuição de espaço, e, consequentemente, para a harmonia entre a vizinhança.

Já se sabia que a nova administração norte-americana, confrontada com uma crise que não pode deixar de aumentar o desemprego, iria dar seguimento às promessas de defesa dos postos de trabalho em alguns dos sectores mais ameaçados.
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Aliás, uma das últimas leis da administração Bush já tinha pretendido de algum modo antecipar o preâmbulo de uma confrontação, que pode degenarar em conflitos, que sabemos como começam mas nunca como acabam, ao triplicar os direitos aduaneiros sobre as importações de queijo Roquefort e, sempre pela mesma medida grossa, outros items procedentes da União Europeia, por retaliação à proibição dos europeus à importação de carne criada com hormonas nos EUA.
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Ontem, Obama traçou algumas directivas com as quais a sua adminitração pretende ir de encontro aos interesses e anseios da classe média norte-americana ao atribuir solenemente ao seu vice-presidente a responsabilidade directa de superintender na aplicação de medidas que prossigam aquela política. De entre elas, "Buy American" é mote para uma estratégia que pode fazer recuar os avanços, e os entusiasmos, que caracterizaram as últimas décadas no sentido do comércio livre.
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Uma estratégia legítima? Provavelmente. Mas também perigosa.
Numa situação de aperto, quando o equilíbrio é mais necessário, o risco de derrapagem para o extremo contrário é proporcional à intensidade do aperto. O mundo precisa de "uma nova ordem internacional", uma ideia antiga que volta a estar na ordem do dia. Que, seguramente, não passa pelo isolacionismo do proteccionismo num mundo cada vez mais apertado.

3 comments:

A Chata said...

Perigosa e muito dificil.

Onde estão as estruturas de produção dos produtos americanos ou europeus?

Citando o livro Made in India:
"O primeiro-ministro de Singapura, Goh Chok Tong, deu, uma vez, uma explicação muito simplista: «A China tornou-se na fábrica do mundo, enquanto que a India é o seu centro de TI e o seu escritório de apoio»."

Onde é que a HP, a Microsoft ou a Intel, a IBM têem os seus centros de produção?
Onde é que a Danone fabrica os seus produtos?

A Nestlé, a Cadbury, a Danone a Gap, a Zara, etc..., isto para só nomear umas poucas empresas bem conhecidas, que empregos criaram na Europa e nos EUA nas últimas decadas e quantos empregos deslocaram para a China e Ásia?

A realidade é que vivemos numa sociedade que com os empregos que restaram (na sua maioria mal pagos) se dedicou, alimentada pelo crédito fácil, a consumir muito acima daquilo que produzia.

Olhe para o nosso país e diga-me quais são os produtos Made in Portugal que podemos comprar?

Rui Fonseca said...

"Olhe para o nosso país e diga-me quais são os produtos Made in Portugal que podemos comprar?"

É uma boa questão.

Conto dedicar uns comentários mais alargados ao assunto na semana que vem.

De qualquer modo, parece-me, a solução deste problema não passa pelo levantamento de barreiras alfandegárias. Essa seria sempre uma via a evitar.

Temos outras?

Creio que sim. Que terão, forçosamente, de passar por apoios às actividades produtivas de bens e serviços transaccionáveis.

O problema maior de Portugal é a dívida que acumulámos (pública e privada) que não nos consente que possamos continuar a aumentar.

Temos de exportar mais (apoiando as actividades exportadoras) e importar menos (realizando poupanças e alterando hábitos).

Seria importante explicar aos portugueses que há relações de vizinhança próxima que não podem ser descuradas sob pena de terem quase todos que emigrar.

A Chata said...

Acho que, sobretudo, temos que encarar a situação real de frente, sem subterfugios, sem nos agarrarmos a um 'Mundo' que já não existe, para tentarmos descobrir qual o melhor caminho a seguir.


O que está feito, está feito.
Vamos deixar de discutir se estamos numa recessão ou se a culpa foi deste ou daquele.

Ainda hoje li um artigo no Telegraph em que o articulista afirmava que a China, como economia emergente, iria ter dificuldade em exportar para os países ricos.

Países ricos?
Quais?
Endividados talvez.

Os países ricos, com reservas para subsidiar a sua economia, sem recorrer a empréstimos de terceiros, quem são?

Para encontrar soluções para um problema é essencial analisa-lo e discuti-lo sem preconceitos, sem paixões e com clareza.

Emigrar?

Para onde?