Quando se apregoa um pouco por toda a parte que as famílias portuguesas estão sobreendividadas, que o Estado idem, que as empresas idem aspas, que os bancos idem aspas aspas, não cessam as notícias de novas vagas e mais tentações.
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De repente, o governo saca da cartola mil duzentos e cinquenta milhões para pagar a quem deve, abre uma linha de garantias ao sistema bancário de vinte mil milhões, abre a porta à entrada supletiva no capital dos bancos se eles pelos seus próprios meios não forem capazes de atingir o Tier 1 de nível 8, um indicador para entendidos mas que requere dinheiro dos accionistas que o Estado, até quatro mil milhões, suprirá se eles não quiserem ou não puderem fazê-lo. E as pessoas perguntam-se, de onde vem tanto dinheiro?
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Alguns destes valores não implicam, necessariamente, desembolsos mas tão somente a sua eventualidade. No caso dos pagamentos a fornecedores, ficámos esta manhã a saber que muitos credores do Estado são devedores às Finanças, sendo, portanto, natural que possa haver encontro de contas se não houver desencontro de opiniões. No fim de contas, contudo, muitos milhões terão de ser suportados com aumento de dívida pública.
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Mas com a propensão ao consumo que se instalou, o nível de endividamento das famílias, a crise, não é muito provável que o governo consiga ir buscar uma parte significativa dos fundos necessários à poupança interna, sendo, portanto, forçado a recorrer ao exterior, aumentando a já enorme dependência externa. Um bico-de-obra que não parece deixar margem para discussão de TGV e aeroporto e outras obras públicas de grande magnitude nos próximos tempos. Curiosamente, no entanto, é na discussão destas impossibilidades que perdem tempo os políticos da oposição e do governo. Com nítida vantagem para o governo que, deste modo, se apresenta como obrador sem ter que reconhecer que não tem dinheiro para tanta obra.
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Entretanto, as famílias continuam a ser assediadas com propostas de mais cartões de crédito.
Da Unicre, recebemos folheto de apresentação do novo cartão Unibanco TR3S, "um complemento do seu actual cartão, (para) sempre que quiser fraccionar uma compra de valor ou igual a 300 € ... as compras serão fraccionadas em 3 vezes sem custos adicionais!...Neste Natal ainda vai ter uma promoção especial! Todas as compras que efectuar com o cartão Unibanco TR3S ...serão fraccionadas em 3 vezes sem juros!"
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Quem é que disse que não há dinheiro e o crédito está difícil?
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