Saturday, November 15, 2008

CADILHADO

Leio no Expresso-Economia de hoje que Miguel Cadilhe admite contestar a nacionalização, acredita que a SNL, a que ainda preside, principal accionista do banco é viável, e que "o governo poderia ter acolhido a proposta de recuperação do banco (...) tanto mais quanto a situação era também fruto de uma falha do Estado, consubstanciada em grave e longa falha de supervisão".
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Levantam-se, a propósito destas afirmações de Miguel Cadilhe, aliás reafirmações, porque as tem vindo a invocar repetidamente desde que a decisão do governo foi conhecida, duas questões intrigantes: i) porque é que Miguel Cadilhe aceitou presidir a um banco que ele sabia rodeado de graves problemas de solvabilidade e liquidez e de suspeitas de actividades ilegais muito graves; ii) porque é que Vítor Constâncio aparou durante tanto tempo um banco que ele sabia, porque era impossível desconhecer, ameaçado por todos os lados, independentemente da crise financeira global anunciada com muita antecedência.
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Que Oliveira e Costa & Cª tenham dado o golpe não é um exercício original: a crise financeira mundial não é mais do que o resultado de uma acumulação colossal de golpes que deixam Oliveira e Costa nas divisões mais baixas de um campeonato regional. Que alguns dos accionistas sabiam ao que iam e muitos depositantes embarcaram, como os que embarcaram em pirâmides tipo Dona Branca, não é surpresa dada a frequência com que se observam tantas entusiasmadas adesões por lucros gordos e fáceis. Que o PSD esteja mais recolhido que motivado para reclamar a penalização dos golpistas, percebe-se, dada a indisfarçável ligação ao BPN de conhecidas figuras do partido. Que Cadilhe e Constâncio se vejam envolvidos no redemoínho é mais difícil de entender.
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Quanto a Miguel Cadilhe, pode supor-se que se encontrava carente de visibilidade e, tendo visto frustradas as suas quixotescas tentativas para presidir ao BCP após a queda da anterior administração, forçada por Constâncio, embarcou noutra aventura contra moínhos desgovernados.
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Já a pastosidade de Constâncio tem encontrado no seu carácter indeciso a justificação mais plausível para se ter enredado num beco que ele sabia que não tinha saída natural. Esta abordagem, contudo, peca por desconsiderar a sua inteligência e a sua capacidade técnica, além do instinto de sobrevivência inerente a toda a gente.
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Uma explicação possível para conformar dois comportamentos aparentemente estranhos reside no confronto político travado nos bastidores do bloco central que tem governado o país. Nesse confronto, Constâncio tem vindo a desempenhar um papel interventivo nem sempre dissimulado: i) assumiu o encargo de corrigir o orçamento legado pelo governo demitido de Santana Lopes; ii) responsabilizou a anterior administração do BCP, viabilizando a eleição de uma administração conotada com o PS, e silenciou-se a partir daí; iii) consentiu no apodrecimento do BPN até ao ponto em que a sua nacionalização não tinha alternativa.
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Cadilhe mediu mal a passada, aliás já se tinha enganado fragorosamente no caso do BCP, e nunca terá admitido que o governo optaria pela nacionalização; Esta, contudo, deve ter sido pensada muito antes de Cadilhe ter avançado com a sua proposta de subscrição pelo Estado de 600 milhões de euros de acções privilegiadas, isto é, sem direito a voto. E não é nada improvável que, para que tudo isto acontecesse, o governador do Banco de Portugal e o Ministro das Finanças tenham trocado opiniões sobre estes assuntos.

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