Leio o seu comentário e não me parece que possa concordar consigo. Concordo que as palavras e as imagens têm uma importância enorme na guerra mas não é com elas que o terrorismo se alimenta e mata. Digamos que, considerando todo o arsenal, as palavras e as imagens são as armas de destruição lenta que dão visibilidade aos espectaculares actos terroristas e atiçam o ódio injectado nas mentes dos fanáticos.
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Poderiam os dirigentes políticos e militares indianos dizer friamente, quando viram a arder os bens e a serem feridas e mortas centenas de pessoas, "vamos capturar os criminosos e levá-los à justiça"? Claro que poderiam mas não é essa a reacção mais natural da condição humana. Ninguém diz só isso porque para que seja feita justiça é fundamental perseguir e capturar os criminosos, vivos ou mortos, por mais que a nossa consciência de cidadãos livres reprima os mais primários instintos de sobrevivência numa guerra que é de vida ou de morte.
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Foram altamente chocantes as imagens que correram mundo do enforcamento de Sadam Hussein? Sem dúvida. Tanto, que evitei vê-las, e não as vi. Tenho, no entanto, a convicção de que as verdadeiras causas da guerra do Iraque não são aquelas que são geralmente divulgadas. Comentei já sobre este assunto, nestas palavras cruzadas, umas dezenas de vezes. Admitindo, no entanto, que a invasão do Iraque foi um erro inqualificável, a prisão de Sadam tornou-se uma das inevitáveis consequências desse erro. Preso Sadam, do ponto de vista dos que o prenderam, o que seria esperável: Sadam preso ou Sadam enforcado? Sabemos a resposta.
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Qual seria a nossa? Tenho pudor de me fazer moralista aqui neste sossego de uma tarde invernosa a olhar a Serra de Sintra.
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O problema é de linguagem. Da nossa. (Os terroristas até falam bem, considerando o ofício.) A verdade é que quando dizemos que os terroristas “vão pagar caro” estamos a participar na guerra. Nós só temos de dizer que vamos capturar os criminosos e levá-los à Justiça. Mas a cabeça quente e a revolta (que é da bitola da dos terroristas) leva-nos aos “vão pagar caro” e “wanted, dead or alive”. Depois às acções, que não vivemos só de palavras. Grande estratégia a dos americanos… Partir o Iraque ao meio, capturar Saddam e enforcá-lo perante as câmaras daqueles oportunos telemóveis. A imagem correu o mundo e os paladinos da liberdade festejaram. Foi uma decisão judicial que condenou Saddam. É verdade. Mas uma decisão pouco cega, que de judicial só tem a legitimidade. Saddam devia estar preso. Quando o enforcámos, mostrámos que a nossa justiça também se faz matando. Nós ao abrigo da Lei, claro. Mas isso da Lei… precisa de um certo ambiente. A minha proposta é simples: apostar forte na inteligência (mais que em armas finas, porque armas finas para combater gajos que se explodem com bombas caseiras é supérfluo), moderar a linguagem dos governantes e diminuir o espectáculo montado pela imprensa à volta dos atentados. Isto porque, parecendo que não, parte do sucesso destes actos criminosos é a nós e à nossa sociedade que se deve.
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