Tuesday, November 11, 2008

PASTOSO

O governador do Banco de Portugal está na AR para ser ouvido acerca do caso BPN.

A sessão começou com uma exposição longa de 70 minutos do próprio governador, que tentou justificar a acção de supervisão do banco central, e sobretudo das limitações das suas funções enquanto supervisor na prevenção ou detecção de práticas fraudulentas. A exposição de Vítor Constâncio foi arrastada, à defesa, sem a alma nem a convicção que se esperava de quem tem sido atacado por todos os lados nos últimos dias.

A seguir falou Paulo Portas, e eu penso que as próximas intervenções dificilmente poderão acrescentar alguma coisa relevante ao que foi dito pelo líder do CDS. Paulo Portas foi arrasador, convincente, demolidor do governador a quem, de olhos nos olhos, sugeriu que se demitisse para bem da retoma de confiança que o sistema financeiro carece. A intervenção, curta, do deputado do PSD cumpriu calendário; a do representante do PS está neste momento a repetir alguns argumentos de Constâncio. Se alguma vivacidade está para acontecer ainda ela virá certamente de Louçã. E é esta a única razão que me prende ainda ao televisor, que, aliás, tem um ruído de fundo no canal da AR insuportável. Que argumento novo poderá descortinar Louçã?

Embirro com Paulo Portas. Mas tenho de reconhecer que a forma como interpelou Vítor Constâncio deixou o governador de rastos. Senti uma imensa vergonha por ele. Porque nos habituámos a ver nele honestidade, competência técnica, dimensão intelectual pouco frequente entre as figuras públicas que povoam a nossa aldeia. Ficou despedaçado, sem apelo nem agravo, e percebe-se que quanto mais se agarrar ao cargo mais dolorosa será a sua caminhada a partir de agora.

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Ontem, no programa Prós e Contras dedicado ao caso BPN, Nogueira Leite considerou pastoso o comportamento do governador; hoje, Paulo Portas acusou-o de ter andado a dormir. Ditas em público, são pouco abonatórias para acusadores e acusado. Vítor Constâncio, por respeito para com ele próprio e o cargo que exerce, não deveria consentir colocar-se em posição em que se sujeita a estes e outros tipos de afrontamento à sua dignidade.

3 comments:

António said...

Boa tarde.
Gabo-lhe a paciência.
Estes tipos, os donos e usufrutuários da democracia que aqui existe, fazem o que querem e sobra-lhes tempo.
Pouca vergonha foi coisa que sempre tiveram e mesmo assim foram-na perdendo, perdendo e agora já não têm nenhuma.
Por mim, se quiserem ficar, que fiquem, se não quiserem que se vão embora gozar para outro lado. Para o lugar deles virão outros iguais ou piores.
Já não acredito nisto.

Rui Fonseca said...

Viva António,

Para alguma coisa teremos de ter paciência, é que é. Eu, que não nasci muito abonado dela, para mim isto é mais um exercício de palavras cruzadas que de paciência.

Parece que VC acabou por dizer que não se demite porque, segundo ele, o Branco de Portugal fez tudo o que deveria ter feito.

Ou é muito ingénuo ou já não é tão honesto como parecia ser.

Unknown said...
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