Friday, May 23, 2008

PORTUGUESES POBRES

De vez em quando, somos sacudidos com relatórios que nos colocam na primeira linha da desigualdade social e económica entre os nossos parceiros europeus e no número de cidadão a viver abaixo do limiar de pobreza, entre outras posições igualmente nada honrosas em quadros de avaliação dos comportamentos colectivos. E toda a gente que escreve ou discursa sobre estes assuntos lamenta as situações infames, vertendo águas de crocodilo enquanto não reimergem nas caldas águas dos seus santuários, e os mais engordados não abdicam minimamente dos privilégios que a sorte ou as habilidades lhes garantiram. Geralmente, abominam a ideia do estado social que culpabilizam de todos os desvarios orçamentais e fonte de toda a ignorância, indolência e preguiça que caracteriza, segundo eles, a pobreza. Destes lamentadores profissionais ou hipócritas não saem senão sinais de incómodos transitórios.
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A repartição de rendimentos em sede de sugrança social, só por si não resolve a pobreza. As raízes da miséria e da pobreza sustentam-se fundamentalmente na falha de escolaridade e esta é uma quase fatalidade dos meios pobres, enleando-se uma desgraça na outra.
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O emprego não garante, por outro lado, uma vida sem os tormentos da pobreza: uma grande parte da população pobre trabalha. Por outro lado, é visível que o estado social ainda garante subsídios a indivíduos pouco disponíveis a procurar emprego ao mesmo tempo que há ofertas de trabalho que não são procuradas, ou não são procuradas por portugueses.
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Para além destas situações, encontram-se aqueles que não podem contar senão com a solidariedade dos outros: aqueles cuja idade ou condição física já não lhes permitem trabalhar e garantir através do trabalho qualquer rendimento e não têm outro.
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Para além de muitas outras acções que o saneamento da chaga da pobreza impõe, e de entre as quais a educação é trave mestra, as políticas de subsídio de desemprego e de salário mínimo deveriam ser integradas numa política de subsídio ao emprego, que criteriosamente garantisse a todos os que trabalham rendimentos líquidos que se situassem acima do nível de pobreza.
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Neste contexto, os detentores de fortunas e rendimentos elevados e muito elevados deveriam ser chamados a contribuir para a solução de um problema que os deveria envergonhar colectivamente. E os órgãos que na União Europeia editam estes relatórios e estas estatísticas deveriam coodenar-se com os seus pares que, no âmbito da União têm, ou deveriam ter, funções de controlo dos evadidos às suas obrigações perante a colectividade onde moram ou de onde extraem as suas fortunas.

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