A posição indisfarçavelmente desconfortável de Pacheco Pereira ontem à noite no "Quadratura do Círculo", a propósito das directas de amanhã, era-lhe infligida em dois pontos duros e agudos:
por um lado a prestação televisiva de M Ferreira Leite, constrangida e desanimada, contrastou pela negativa com a retórica incontida do seu inimigo de estimação, P Santana Lopes, colocando perigosamente em risco a vantagem que as sondagens vinham dando até há pouco tempo a Ferreira Leite; por outro, a dificuldade insuperável, mesmo para um pensador político com o arcaboiço de Pacheco Pereira, esboçar, ainda que a traços grossos, uma área de intervenção política onde possam entender-se as três correntes que ele diz atravessarem o PSD: a social-democracia, o liberalismo e o personalismo. Valha a verdade, a dificuldade na demarcação do terreno não atormenta apenas Pacheco Pereira, porque assalta todos quantos (naturalmente, poucos) no partido se dão ao exercício masoquista de pensar nele.
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Para complicar a situação, as directas de amanhã terão muito provavelmente resultados que distribuirão pelos três concorrentes, em partes não sensivelmente desiguais, os noventa e muitos por cento dos votos válidos. Patinha Antão não conseguirá mais que um dois por cento, Manuela e os dois Pedros terão, cada um, uma quota entre 28 e 35%. Estimativa minha não sujeita a imposto.
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O PSD será, então, cada vez mais um partido sem uma matriz de ideias agregadoras nem um líder que à força da maioria à sua volta congregue as diferentes facções: não havendo segunda volta entre os dois candidatos mais votados, como chegou a propor P Passos Coelho, o candidato eleito terá na oposição representantes de cerca de dois terços dos militantes do PSD. O que não augura senão a continuação da batalha interna até ao desmoronamento final. Poderá a crise animar o novo líder desanimando dramaticamente a confiança da população portuguesa no actual governo? Nesse caso, tanto pior para todos, incluindo o próximo executivo.
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