Passava pouco das 15 horas quando ligo o rádio, estava Francisco Louçã a acusar na Assembleia da República o primeiro ministro. Apanhei-lhe o discurso quando ele denunciava, naquele tom alto e bom som, de proprietário da verdade, que o presidente da UGT andava a tomar lições de bom comportamento em aulas conjuntas com os discípulos do PS; e que Sócrates tinha mentido aos portugueses quando anunciou o congelamento dos passes sociais e, afinal, só o pessoal que vive em Lisboa e Porto, e à volta, pode contar com a prenda. Como é costume, Sócrates respondeu-lhe no mesmo tom, assanhado e agressivo: o chefe da UGT não é pessoa para se deixar enrolar, os passes sociais fora de Lisboa e Porto são com os municípios. A discussão foi tesa e os insultos mal disfarçados. E percebe-se bem porquê: Louçã, se o deixam solto, põe meia praça do lado dele. Como não tem, nem é esperável que venha a ter, responsabilidades de governo, corre-lhe o tempo de feição em tempos de crise. Nesta saga, falar alto é argumento. Se este homem, um dia, por estranha conjugação astral, tivesse responsabilidades governativas decisivas quanto ao rumo da economia e da sociedade, onde iríamos parar? Pergunta ao Jerónimo, respondeu há dias um destacado membro do PC, agora na reforma.
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Gama, depois da troca azeda de mimos entre bloquistas e socialistas, deu a palavra a Santana e este o flanco a Sócrates: Como o tema da pobreza está na ordem do dia, de repente juntou-se o coro a cantar a ladaínha dos pobrezinhos, Santana achou por bem mostrar que não se põe de fora, aliás sempre lá esteve, disse ele, a Manuela Ferreira Leite é que anda para aí a dizer que é ela a solista, mas não é. Mas como Santana não lê os relatórios e costuma cantar de ouvido, Sócrates aproveitou para lhe baralhar o improviso: Afinal de contas, os números que recentemente vieram alvoroçar tanta consciência em hibernação reportavam-se a 2004, ano em que Santana foi, por acaso, chefe do governo. Desde então, provavelmente, a situação não melhorou muito mas só por oportunismo desenfreado se pode atribuir a um governo uma desgraça que vem de longe. Soares deu o mote, ele que também é alérgico a números e a relatórios, e Santana pôs-se a trautear o tiroliro. Saiu-lhe o tiro pela culatra. E se este homem ganha as directas e, por ironia da crise, ganha as legislativas de 2009?
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