Monday, May 12, 2008

OS ECONONEGATIVISTAS



"Even until his dead in 1834, Malthus felt obliged to deny that he was an enemy of mankind. Lecturers and authors still portray him at best as a dour person and at worst as a goblin well suited for Halloween. Yet his critics, he thought, donned the merry masks that marred their vision - preventing them from seeing that the light at the end of the tunnel was a train coming to them" - Todd G. Buchholz -New Ideas From Dead Economists
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Malthus voltou a estar na berlinda. Há escassez de cereais, chineses e indianos têm-nos vestido (e não só) nos últimos anos e têm agora dinheiro para comer melhor. As alterações climáticas, com consequências desastrosas em muitos casos sobre as condições de cultivo de alimentos, os aumentos dos consumos de energia (e mais uma vez o aumento do poder de compra de chineses e indianos, entre outros, está a desencadear uma espiral de preços) atraindo o desvio de quantidades de milho, ainda que relativamente pequenas, para a produção de biocombustíveis, são acusados culpados. Tudo somado, a resultante está a provocar um clamor geral: Vem aí a fome, Malthus tinha razão: a luz ao fundo do túnel é de um combóio que nos vem esmagar.
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Um dia, um maduro que gostava de fazer contas calculou que se todos os chineses quisessem, de um momento para o outro, passar a limpar o rabo com papel higiénico suave de duas folhas, aquele a que estamos habituados a usar no Ocidente, as florestas da Amazónia não chegariam para produzir o papel suficiente para colmatar tão inesperada procura. Diga-se, de passagem, que as florestas da Amazónia têm sido, e continuam a ser, dizimadas sem que o papel com que realizamos a nossa higiene mais primitiva tenha a mínima culpa no cartório, porque nenhum utiliza a madeira amazónica como matéria-prima.
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Tudo isto para dizer que a prevenção de Malthus não é, nunca foi e, espera-se, nunca será uma previsão acertada. O homem tem conseguido ultrapassar as dificuldades que escoravam os vaticínios de Malthus e o que defrontamos hoje não é um súbito crescimento populacional (a China tem, pelo contrário utilizado políticas, de algum modo censuráveis à luz dos valores das culturas democráticas, de redução forçada do ritmo de crescimento demográfico) mas a invocação de um direito legítimo de quererem os subalimentados comerem mais arroz, mais carne, mais pão.
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Se o alerta de Malthus, na sua época, procurava incentivar a adopção de medidas que contrariassem o crescimento demográfico (porque o crescimento da produção de bens alimentares, segundo ele, estaria condenado a uma progressão aritmética incapaz de acompanhar a progressão geométrica da população) o que atormenta os neomalthusianos hoje não é a bomba demográfica mas uma outra bomba que eles não sabem desactivar: a chegada ao mercado de poder de compra com que não contavam porque não quiseram contar.
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Anedoticamente, ao mesmo tempo que os clamores da fome inundam as notícias ouvem-se informações de que é cada vez maior o número de obesos neste lado do mundo e que, por exemplo, na Inglaterra se contam em biliões de libras o valor dos produtos alimentares deitados nos caixotes de lixo, por terem sobrado das refeições ou se terem estragado nas prateleiras e frigoríficos.
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E as notícias ficam por aí porque a generalidade dos comentadores fica-se pela queixa das dores.
Sugestões para ultrapassar a questão não aparecem ou, se aparecem, são obliteradas pelos lamentos dos que estão bem alimentados.
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Daniel Bessa ,prestigiado economista, embarcou esta semana no caderno de economia do Expresso no mesmo lundum: começa com uma síntese da tese de Malthus, segue com uma resenha da situação actual e termina com uma declaração anémica: "A questão apresenta-se muito difícil, não se vendo bem como poderá ser resolvida".
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Uma declaração que, nada acrescentando, não merece uma tijela de arroz.

2 comments:

António said...

Meu caro Rui,
você sabe que eu o visito todos s dias, porque me faz bem à alma e, caso essa não exista ficamos só pelo intelecto.
Posto isto resta-me arescentar que as preocupações do Malthus, do Daniel Bessa, suas e de muita gente não devem ser muito direccionadas para o aspecto da fome.
Acho que devem ir mais à questão da sede.
Comer arroz, milho, bifes ou carapaus sem beber uma pinguita de água vai ser difícil. Tão difícil quanto essa malta não gostar muito de vinhaça (dizem) será ter com que lavar os pés, quanto mais os dentes.

Rui Fonseca said...

Viva António!

Concordo cem por cento consigo: O problema da fome só não se resolve se os homens não quiserem; quanto à água fia mais fino.

Há hoje, contudo, segundo parece, algumas soluções para a dessalinização que começam a ser economicamente competitivas. Barcelona está ser abastecida por navios tanques e, segundo li, os custos não são superiores aos das captações tradicionais.

De qualquer modo as técnicas de produções alimentares estão muito mais desenvolvidas já que as das produções alternativas de água.

Entretanto, bebamos alguma coisa!

Á sua saúde!