Quando o PSD decidiu imitar o PS, escolhendo o seu dirigente máximo em eleições directas, esqueceu-se talvez da maior diferença que distingue os dois partidos que se reclamam sociais-democratas, e que se têm revesado no comando dos destinos do país nas últimas três décadas: a classe média dos grandes meios urbanos, mais politizada, que apoia o PS; a classe média dos meios urbanos e rurais, mais dispersos, que apoia o PSD. Enquanto os socialistas são agregados pelas convicções fundadoras do partido, ainda que cada vez mais ténues, os sociais democratas sustentaram sempre os seus resultados eleitorais em grande parte na mobilização popular contra o socialismo, não distinguindo propositadamente muitas vezes os socialistas dos comunistas.
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Mas existe ainda outra diferença significativa com impacto nos resultados em eleições directas: O hiato de afinidades entre entre as classes dirigentes de ambos os partidos e as suas bases é muito maior no PSD que no PS.
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Daqui decorre que as eleições directas no PSD tenderão sempre a conceder muito mais espaço de manobra ao populismo que no PS. Por outro lado, e em consequência desse maior distanciamento cultural entre as bases e os dirigentes, a fragmentação partidária no PSD tem mais probabilidades de ocorrer que no PS durante os períodos em que não são governo.
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Se assim for, os candidatos do PSD às próximas eleições dificilmente escaparão, mesmo os menos propensos, a jogar mais no campo das emoções que no das ideias. A proposta de P Passos Coelho de uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados na primeira faz todo o sentido, porque remediaria, em parte, as consequências de um embate que não vai, certamente, dar maior unidade ao partido. Mas como não está prevista uma segunda volta nos regulamentos, e uma alteração nesta altura é virtualmente impossível, o novo presidente muito provavelmente contará, logo à partida, com uma oposição maioritariamente expressa nas directas.
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Amanhã o Expresso divulga sondagem que conclui que, somadas as intenções de votos no PSD e CDS, se as eleições legislativas fossem hoje, os dois partidos à direita do PS não ultrapassariam os 33,2%, valores que ficam aquem dos obtidos nas últimas eleições pelos mesmos partidos. Ainda, segundo a mesma sondagem, o PS renovaria a maioria absoluta.
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As próximas eleições, legislativas e municipais, são já no próximo ano. Até lá, o governo conta com o apoio das oposições internas no PSD e no CDS.
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