Monday, April 22, 2024

CONTAS DO 25 DE ABRIL - 2

 

17/Novembro/75

Primeira cena do II acto . – um momento crucial –

 

A propósito da manifestação promovida pelo PCP, UDP e outras organizações políticas da esquerda revolucionária, Octávio Pato teceu considerações na Assembleia (Constituinte) que o PS e o PPD apuparam.

Disse aquele deputado:

“O nosso país e a Revolução portuguesa atravessam um momento crucial. Os acontecimentos demonstram, de forma inequívoca, que uma viragem à direita na política portuguesa não resolve, antes agrava, a crise político-militar, assim como os conflitos sociais e a situação económica” …

No domingo no Terreiro do Paço, mais uma vez se provou o que por mais de uma vez temos afirmado: no Portugal de hoje não é possível governar sem o Partido Comunista Português, e muito menos contra o Partido Comunista Português”…

Segunda cena do II acto . PCP justifica o sequestro

Octávio prosseguiu a sua intervenção referindo-se â manifestação afecta à construção civil que sequestrou os deputados no Palácio de S. Bento durante a noite de 12 para 13 de Novembro e manhã do último dia.

…”É inesquecível o espírito de sacrifício de milhares de trabalhadores que, durante trinta e seis horas,  sem dormir …

… ao frio da noite, sentados ou deitados nas ruas ou nas escadarias junto ao Palácio de S. Bento. Ali se mantiveram e dali não arredaram pé …”
… O significado dessa luta de dezenas e dezenas de trabalhadores que auferem um salário de miséria não o quiseram ver os deputados do CDS, do PPD e parte ds deputados do PS … Não quis ver o dr. Mário Soares, que afirmou que a luta dos trabalhadores da construção civil era “uma acção de sabotagem económica”…

 

IV acto . retrospectiva dos acontecimentos

 

Falou depois José Luís Nunes (PS) que narrou assim os acontecimentos: 

Na passada quarta-feira, dia 12, foi convocada por trabalhadores da construção civil uma manifestação que deveria dirigir-se ao Ministério do Trabalho, com vista a pressionar o Governo e, através da razão da força, procurara obter o que a força da responsabilidade e da razão não podia outorgar”… 
 “Tendo sido encerrado o Ministério do Trabalho, entenderam os Manifestantes dirigir-se ao Palácio de São Bento, efectuando o cerco deste edifício público, bem como residência oficial do Chefe do Governo, que lhe fica contígua”. 
“Finda a sessão da Assembleia Constituinte, foram todos os deputados, e não só os deputados, mas também os trabalhadores desta casa … impedidos de abandonar o Palácio de São Bento por manifestantes cuja atitude agressiva não era certamente alheia a incúria, ou melhor dizendo, a cumplicidade com que certas autoridades militares actuaram, deixando o Palácio de São Bento sem qualquer protecção, em flagrante contraste com o que anteriormnte acontecera em manifestações menos concorridas e menos anunciadas” 
... “Mais importa também declarar () que o direito de manifestação acaba onde começam os restantes direitos individuais. E o que se passou aqui na noite de 12 para 13 deste mês não foi o uso legítimo direito,  mas um inqualificável abuso de direito” … 
“Choca, em primeiro lugar, o local escolhido para fazer a manifestação. Se efectivamente se encontra encerrado o Ministério do Trabalho, os manifestantes, em vez de se dirigirem a outros Ministério, ou a outros pontos do Governo, admitindo, por hipótese absurda, que eram conduzidos de boa fé, o que só por hipótese se admite, vieram para a Assembleia Constituinte. É preciso dizer que nós deputados eleitos pelo povo, que só deputados eleitos, não temos competência para outorgar salários ou aumentar regalias” … 
“Deve dizer-se que sequestro não é uma forma de reivindicação” … 
“Deve dizer-se que o saneamento é uma forma de extorsão”
 
 


 

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