17/Novembro/75
Primeira cena do II acto . – um momento crucial –
A propósito da
manifestação promovida pelo PCP, UDP e outras organizações políticas da
esquerda revolucionária, Octávio Pato teceu considerações na Assembleia
(Constituinte) que o PS e o PPD apuparam.
Disse aquele deputado:
“O
nosso país e a Revolução portuguesa atravessam um momento crucial. Os
acontecimentos demonstram, de forma inequívoca, que uma viragem à direita na
política portuguesa não resolve, antes agrava, a crise político-militar, assim
como os conflitos sociais e a situação económica” …
No
domingo no Terreiro do Paço, mais uma vez se provou o que por mais de uma vez
temos afirmado: no Portugal de hoje não é possível governar sem o Partido
Comunista Português, e muito menos contra o Partido Comunista Português”…
…
Segunda cena do II acto .
PCP justifica o sequestro
Octávio prosseguiu a sua
intervenção referindo-se â manifestação afecta à construção civil que
sequestrou os deputados no Palácio de S. Bento durante a noite de 12 para 13 de
Novembro e manhã do último dia.
…”É
inesquecível o espírito de sacrifício de milhares de trabalhadores que, durante
trinta e seis horas, sem dormir …
…
ao frio da noite, sentados ou deitados nas ruas ou nas escadarias junto ao
Palácio de S. Bento. Ali se mantiveram e dali não arredaram pé …”
… O significado dessa luta de dezenas e dezenas de trabalhadores que auferem um
salário de miséria não o quiseram ver os deputados do CDS, do PPD e parte ds
deputados do PS … Não quis ver o dr. Mário Soares, que afirmou que a luta dos
trabalhadores da construção civil era “uma acção de sabotagem económica”…
IV acto . retrospectiva
dos acontecimentos
Falou depois José Luís Nunes (PS) que narrou assim os acontecimentos:
“ Na passada quarta-feira, dia
12, foi convocada por trabalhadores da construção civil uma manifestação que
deveria dirigir-se ao Ministério do Trabalho, com vista a pressionar o Governo
e, através da razão da força, procurara obter o que a força da responsabilidade
e da razão não podia outorgar”…
“Tendo sido encerrado o Ministério do Trabalho,
entenderam os Manifestantes dirigir-se ao Palácio de São Bento, efectuando o
cerco deste edifício público, bem como residência oficial do Chefe do Governo,
que lhe fica contígua”.
“Finda a sessão da Assembleia Constituinte, foram todos
os deputados, e não só os deputados, mas também os trabalhadores desta casa …
impedidos de abandonar o Palácio de São Bento por manifestantes cuja atitude
agressiva não era certamente alheia a incúria, ou melhor dizendo, a cumplicidade
com que certas autoridades militares actuaram, deixando o Palácio de São Bento
sem qualquer protecção, em flagrante contraste com o que anteriormnte
acontecera em manifestações menos concorridas e menos anunciadas”
... “Mais
importa também declarar () que o direito de manifestação acaba onde começam os
restantes direitos individuais. E o que se passou aqui na noite de 12 para 13
deste mês não foi o uso legítimo direito,
mas um inqualificável abuso de direito” …
“Choca, em primeiro lugar, o
local escolhido para fazer a manifestação. Se efectivamente se encontra
encerrado o Ministério do Trabalho, os manifestantes, em vez de se dirigirem a
outros Ministério, ou a outros pontos do Governo, admitindo, por hipótese
absurda, que eram conduzidos de boa fé, o que só por hipótese se admite, vieram
para a Assembleia Constituinte. É preciso dizer que nós deputados eleitos pelo
povo, que só deputados eleitos, não temos competência para outorgar salários ou
aumentar regalias” …
“Deve dizer-se que sequestro não é uma forma de reivindicação” …
“Deve dizer-se que o saneamento é uma forma de extorsão”
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