Monday, October 06, 2014

MÃOS LIMPAS, CARA LAVADA

Carlos Lemos, Carlos Barbeiro, Charlot, Industrial, quatro nomes para uma pessoa só. Cortava cabelos e barbas a cavalheiros, um mãos de veludo, nos tempos em que o unisexo ainda não era nascido nem pensado. Durante o verão, o Industrial de Barbearia (a designação que ele preferia) mudava-se para o salão mais renomado do ramo na Figueira, onde a sua técnica, a elegância do gesto e a leveza da mão cativavam os clientes mais exigentes. De entre a clientela do Industrial destacava-se um grupo que descia todos os anos de Cidade Rodrigo para a família ter praia e eles Casino. Um dia, um novo elemento do grupo, sentou-se na cadeira do Industrial, - la barba y el pelo, por favor - certamente por recomendação de um veterano. Deu o Industrial as boas vindas ao novo cliente, enquanto lhe colocava a toalha, e preparava-se para iniciar o trabalho, depois de preparada a espuma, aprumado o pincel, afiada a navalha, aquecido o movimento da tesoura, alinhadas as loções, quando o cliente o interroga:

- Te lavaste las manos?
Surpreendido, mas não ofendido, o Industrial sorriu, voltou-se para o lavatório e lavou, ensaboou e voltou a lavar, demoradamente as mãos. Enxugou-as, e pegando na tesoura, preguntou por sua vez:
- Y tú te lavaste la cara?

Lembrei-me do Industrial a propósito de um artigo publicado há dias no Público, desafiando o articulista os jornalistas a não deixarem cair no esquecimento o caso Tecnoforma mas também a não deixarem para altura polemicamente mais rentável a divulgação do que sabem (se é que sabem) acerca do passado menos glorioso do outro candidato a primeiro-ministro. 

- Tens as mãos limpas, Costa?
- E tu, Coelho, tens a cara lavada?

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