Wednesday, March 20, 2013

O ABRAÇO DE PUTIN

O caso Cipriota é uma réplica, com algumas especificidades próprias, das perversidades de um sistema financeiro que, passados mais de quatro anos desde o desencadear da crise subprime nos EUA, subsiste praticamente intocado: os banqueiros embolsam os lucros e os bónus simulados, os bancos, com preponderantes e incontroladas actividades de casino, afogam-se e os contribuintes são coagidos a pagar as bóias de salvação. Quando o Chipre se tornou membro da UE em 2004, já as máfias russas tinham instalado as suas lavandarias de dinheiro sujo. Mas ninguém quis dar por isso.
Neste vídeo Bloomberg são referidos alguns indicadores que caracterizam o panorama financeiro cipriota e as razões do seu colapso nada original.
 
Há mais de um ano anotei aqui uma reportagem do Washington Post a propósito da situação na Hungria e da progressão dos russos na recuperação da sua influência no leste europeu perante a incapacidade da União Europeia em defender os seus propósitos quando admitiu como membros parte dos países que durante décadas tinham estado sob a alçada da ditadura soviética.
 
Algum tempo depois, anotei aqui, a propósito de uma notícia que tinha lido no Expresso há precisamente um ano, a continuidade do abraço de Putin aos conturbados países mediterrânicos culturalmente próximos da Rússia. O Chipre tinha, então, obtido um empréstimo de 2,5 mil milhões na Rússia.  
 
Hoje é notícia que - vd aqui - que o Chipre está a negociar com a Rússia a renegociação das condições daquele empréstimo e o alargamento da ajuda russa, envolvendo o negócio a concessão da prospecção de gás na  plataforma continental da ilha.
 
No fim de contas, um negócio interessante para ambas as partes: As máfias russas, clientes e amigas dos banqueiros cipriotas e da direita no poder não contribuem com cerca de dois mil milhões para o resgate de Chipre, - como era, sabe-se agora, intenção da proposta inicial aparecida no Eurogrupo de aplicar a taxa apenas sobre depósitos acima de 100 mil euros -, Putin & Companhia ficarão a saber quem e quanto colocaram os seus mafiosos em Chipre, o Governo do Chipre ganha poder negocial junto da UE, os russos ganham ainda mais influência num ponto do globo estrategicamente fundamental e apropriam-se das reservas petrolíferas cipriotas.
 
A União Europeia, sem desígnio comum nem estratégia  global, afunda-se em, cada dia que passa.
Por amor aos seus  queridos banqueiros.

3 comments:

Bartolomeu said...

O que prova a falibilidade irreconhecida, da moeda unica europeia.
Que nos trará o futuro?
Uma Europa falida e subordinada a uma confederação asiática dominadora e um continente americano mais unido que nunca, escudado num avanço tecnológico e bélico, fictícios?!
Fala-se que os americanos estarão a desenvolver um escudo contra ataques núcleares... desde que a alta finança americana se contente com a exploração da economia interna, basta-lhes o tal escudo...
;)

rui fonseca said...

"basta-lhes o tal escudo..."

Caro Bartolomeu,

Não sei, não.
Um mundo compartimentado num tempo em que as tecnologias o fazem cada vez mais pequeno, não há escudos que possam permitir a convivêrncia global em paz.

E, por falar em escudos, não ficaremos melhor servidos com eles.

Salvo melhor opnião.

Bartolomeu said...

Entre a situação social actual, suportada numa dívida descomunal em euros controlada por uma união europeia que desde o início se percebeu claramente que a finalidade seria a de aproveitar-se da servidão dos países pobres a quem emprestariam fortunas mas que sabiam antecipadamente que nunca teríam possibilidade de com elas elevar a economia a um nível mínimamente competitivo e; uma situação no escudo em que a competitividade pode ser "alavancada" atribuindo à moeda um valor menor, importando menos e produzindo e exportando mais... penso que ficaremos melhor servidos na segunda...