Sunday, March 31, 2013

AMANHÃ INSEGURO

O senhor Passos Coelho terá afirmado que se demitirá se o Tribunal Constitucional lhe chumbar o Orçamento. E há alguns indícios que a intenção é consistente, ainda que o comentador Marcelo, que afirma conhecê-lo desde pequenino, garanta que ele não é homem para atirar a toalha ao chão. Veremos. Em todo o caso, se não cair desta, o Governo não tardará a cair, empurrado pelo pecado original de ter, de facto, desatrelado o PS da carga de responsabilidades assumidas pelo trio perante a troica. Uma queda tão previsível, repito-me, que só não espanta que não tenha sido evitada a tempo pelo senhor Passos Coelho porque a autosuficiência deste, replicando a do seu antecessor, o impediu de  avaliar convenientemente a passada que lhe permitia a perna.
 
Perfila-se, neste contexto carregado, o senhor António Seguro para empunhar o tição, se, como afirma, em eleições antecipadas os portugueses lhe confiarem o testemunho em brasa. Admitamos que o senhor Passos Coelho se demite e que o senhor António Seguro é primeiro-ministro suportado por uma maioria socialista na AR. Amainará a crise e a recessão? Ou teremos nova reprise de um combate condicionado por circunstâncias que retiram ao galo no poleiro capacidade para se esquivar às bicadas dos candidatos?

Na União Europeia continua a ser cavado pelos europeus do norte o fosso de separação com os mediterrânicos. A patética cena cipriota veio demonstrar que, se os interesses financeiros do norte estão em causa, todas as medidas correctivas são boas e todas as regras do grupo descartáveis na tragédia europeia. E que chegou o momento da verdade para aqueles que não quiserem ou não puderem subordinar-se aqueles interesses. Os eurocépticos estão à beira de ganhar a aposta: a União Europeia foi uma ideia mirífica que não resistiu ao choque da diversidade das suas culturas e, muito principalmente, aos interesses dos mais fortes.

Nem o senhor Passos Coelho, nem o senhor António Seguro, nem o mais pintado, poderão alterar as razões fundamentais destas colisões de interesses com que contorce a Europa. E se participarem, na confusão global, bicando-se uns aos outros na capoeira doméstica, só deixarão atrás de si um rastro de pobreza e desalento ainda maiores. Se os fumos inebriantes do poder não lhe toldassem a razão talvez pudessem, neste presente histórico, PSD, PS e CDS, acertar uma política comum nas negociações que, para um lado ou para o outro, terão de ser feitas um dia destes com Dona Merkel  Companhia.

Neste contexto, a aparição de Sócrates vem exacerbar o confronto partidário e tornar ainda mais difícil qualquer solução política conveniente para os interesses do país. Uma má ideia, segundo o seu amigo mais atilado.

No comments: