Wednesday, August 08, 2012

CIENTIFICAMENTE, TUDO NA MESMA*

A 13 de Maio deste ano, Krugman ilustrava o seu apontamento do dia - Eurodämmerung - com um youtube do final de Götterdämmerung - O Crepúsculo dos Deuses.

Segundo Krugman (que citei aqui),

1.- A Grécia sai do euro, provavelmente já no próximo mês; (em Junho, portanto)
2.- Espanhóis e italianos transferirão largos montantes de dinheiro para os bancos na Alemanha;
3a.- Talvez possam ser introduzidos controlos, de facto, proibindo a saída de fundos desses países, e limitando os montantes levantados;
3b.- Alternativamente, ou em simultâneo, largos montantes de crédito serão disponibilizados pelo BCE de modo a evitarem o colapso do sistema;
4a.- A Alemanha tem de escolher entre aceitar mudar de estratégia, permitindo medidas que reduzam os custos dos empréstimos, e, consequentemente, que a inflação faça o ajustamento possível dos preços na Zona Euro, ou

4b.- Acaba o euro.

Quatro dias antes, a Fitch garantira que a eventual saída da Grécia não determinaria o fim da moeda única europeia (cf aqui). Recentemente, um estudo realizado pela mesma agência financeira confirma a garantia que deu há cerca de três meses: a zona euro será capaz de resistir às pressões dos mercados e manter-se intacta a longo prazo.

Apesar da oposição das previsões, tanto Krugman como a Fitch (ou quaisquer outros opinadores mais ou menos credenciados) partem da mesma premissa: o comportamento da Alemanha. Krugman critica as obstinações alemãs e prevê o fim do euro se elas persistirem. Fitch garante a sobrevivência da zona euro porque, segundo eles, a Alemanha será perdedora com a sua extinção. Mas a Fitch terá razão se, e só se, os alemães estiverem convencidos disso mesmo.

Até lá, se entretanto nada de muito inesperado acontecer, Merkel quer que os bancos alemães continuem a tirar o cavalo da chuva, e, cientificamente, continuará tudo na mesma.
---
* Para um mote publicado aqui.

4 comments:

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
O que escreve Krugman tem a duração de 8 dias, até ao artigo seguinte.
Há pouco tempo, esteve em Portugal. À chegada disse que não e mais que também. Depois de uma reunião já não sei onde, disse mais que também. Depois de um jantar com o Ministro das Finanças, acabou por dizer que sim e mais que também. E, mais coisa menos coisa, que não conhecia outras medidas que, em Portugal, pudessem ser tomadas.
Opiniões de geometria variável.
Quanto ao que tu dizes que ele disse, o encadeado pode ter lógica. E não é difícil encadear tais ideias. Até porque o encadeado é racional. Vamos ver até quando.

rui fonseca said...

Caríssimo António,

Obrigado pelo teu comentário.

Quanto ao tema, o que é quase certo é que a zona euro está nas mãos dos alemães e eu estou cada vez menos seguro de que eles queiram mesmo continuar com a moeda única lá em casa.

Por este andar, um dia destes põem-se a andar, saindo por cima, convencidos que é a melhor saída que têm.

Alguma coisa terá de acontecer em breve porque não é sustentável haver uma zona monetária onde uns "pagam" juros negativos e outros, que não são pequenos como nós, pagam juros insuportáveis.
É apenas uma questão aritmética, antes de mais.

Salvo melhor opinião.

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
Já que o título do post alude à ciência, em termos "científicos" o risco não se altera fundamentalmente, quer um país esteja ou não no euro. E não se alterando o risco, não se altera o spread. Dirás que a saída do euro viabiliza a produção de moeda que, por sua vez, e segundo alguns "cientistas" diminui o risco do crédito. Pois é, mas depende das economias. Com a economia do Japão é uma coisa; com a economia grega, outra.
Parece, no entanto, que para alguns a saída do euro é um maná que cairia do céu. Arriscam-se a comer pedras no deserto.

rui fonseca said...

Caro António,

A situação está muito clara e sustenta-se na regra de sempre: o sistema bancário segura-se na percepção de segurança.

Neste momento, é público, os países fragilizados (esqueçamos por agora as razões) estão a ver os capitais a sair para a Alemanha por razões de segurança. Parece que os bancos portugueses são a excepção, e ainda bem. Mas de Espanha, segundo o que vem nos jornais, a sangria tem sido tremenda.Mas não há sangria que sempre dure.

Como é que isto se inverte?
Só com austeridade, está provado, não vai lá.

Aliás, ocorre-me uma dúvida de que penso compor uma nota amanhã: E se houvesse uma corrida uma corrida aos bancos na Alemanha? O que diria a Dona Merkel ao senhor Draghi?

Impossível? Porquê?

Pensa nisso.