Thursday, May 15, 2008

APITO FATAL



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Achei patética, mas muito consentânea com o empreendedorismo tipo à portuguesa, a intervenção de Dias da Cunha quando ele, repetidamente, pediu a intervenção governamental no estabelecimento de regras para o futebol. Intervenção que, diga-se de passagem, pelo menos pela abstenção, mereceu o apoio dos outros comentadores, salvo o de Miguel Beleza (que Dias da Cunha "acusou" de liberal, e do Secretário de Estado que foi prudente na posição que atribuiu ao Estado na matéria). Do meu ponto de vista, como cidadão contribuinte, parece-me condenável toda e qualquer intervenção do Estado no negócio do futebol, para além daquelas que devem relacionar o Estado com o mundo empresarial em geral. As decisões do Conselho de Disciplina e do Conselho Superior de Justiça, se decorrem de regras estabelecidas em sede de autoregulamentação do sector, não as aprecio nem as discuto. É lá com eles. A mim o que me preocupa são os milhões gastos com processos para os quais eu, como contribuinte, tenho de contribuir. A intervenção da Justiça no futebol só deveria realizar-se quando estivessem em causa direitos que extravasassem os limites do negócio enquanto tal. De qualquer modo, o negócio deveria pagar por inteiro a custas totais dos processos, nos exactos termos em que a mesma exigência deve ser feita a toda e qualquer actividade empresarial.
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(...) A mim, não me excita o clubismo mas admiro o espectáculo e penso no negócio.
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Em termos negociais, a descida do Boavista, se vier a concretizar-se é um disparate.O Boavista é uma marca que bate de longe outras que andam abaixo e acima no carroussel da primeira e segunda Ligas. Portugal não tem dimensão para tanta equipa profissional. O Boavista deveria fazer parte do núcleo de marcas que deveriam disputar a primeira liga.
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Como é que isso se pode concretizar? A ideia não tem nada de novo mas, acredito, só ela poderá dar competitividade a esta área de negócio. Enquanto isso não suceder a disputa far-se-á entre quem mais habilidades ilegais usar. Com todo o cortejo de miséria dourada que abrilhanta o nosso futebol: empresas falidas, salários em atraso, corrupção dos árbitros, corrupção nas câmaras e nos empreiteiros, um mar fétido.
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Os clubes que disputam a primeira liga deveriam constituir-se todos sob a forma de sociedades comerciais, com um capital social mínimo superior a X milhões de euros. A ideia é tornar difícil a entrada no grupo. Negócio em que a entrada está facilitada nunca será grande negócio.Contrariamente ao que sucede agora, o núcleo duro do clube (dos clubes da primeira liga, entenda-se) nunca deveria deixar cair um dos membros de referência, nenhum que fosse uma grande marca. Porque é a disputa entre nomes conhecidos que pode dar maior interesse ao espectáculo e maiores garantias de rentabilidade aos sócios da empresa. Na situação actual, quando é arvorado o Cascalheira de Cima (que cairá provavelmente na próxima época) e cai o Boavista quem é que ganha com o sistema? Ninguém. O Boavista tem de fazer uma travessia do deserto cobrando mal em campos que não têm espectadores nem televisão a filmá-lo. O Cascalheira de Cima porque vai fazer investimentos com capitais que não tem e o mais certo é na próxima época ir da primeira para a terceira liga. Os outros porque, obrigados a jogar com o Cascalheira de Cima, não ganham para as botas.
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Mas também estou ciente que a esmagadora maioria dos que tivessem de se pronunciar sobre esta ideia responderia redondamente não. Por enquanto.

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