Friday, November 02, 2007

A RELATIVIDADE DOS RANKINGS

O "Público, que amuou com o facto da Ministra da Educação ter feito sair os resultados das escolas secundárias sem dar tempo aos especialistas da casa para os examinarem e estabelecerem rankings, faz do assunto manchete quase total da sua primeira página de hoje, e destaca a pergunta: O ensino privado é melhor que o público? A pergunta do Público refere-se ao ensino secundário; Se fosse referido ao ensino superior a pergunta seria, certamente, formulada ao contrário: O ensino público é melhor que o privado? E que daria lugar a uma terceira: Porque passam os bons alunos do ensino secundário privado para o ensino superior público?
.
Desde o momento em que os resultados foram divulgados pelo Ministério que esta pergunta é a mais debatida e a mais demagogicamente usada. Não, porque se "compara o que não é comparável", posição defendida muitos daqueles que defendem ou pensam defender a escola pública, a começar pela Ministra, mas porque só a anatomia que comparação suscita leva à resposta correcta: O ensino privado não é melhor que o ensino público nem vice-versa: Há, isso sim, escolas onde se encontram reunidas condições para maior ou menor sucesso e isso não depende do estatuto público ou privado das instituições. A prova insofismável desta afirmação está no facto de existirem escolas públicas bem posicionadas no ranking e escolas privadas que ocupam lugares no fim do ranking. Mas é também inquestionável que se na primeira parte do ranking predominam escolas privadas, essa predominância decorre da conjugação de um conjunto de práticas vedadas à escola pública (selecção dos seus alunos, por exemplo) ou não adoptadas pelas escolas privadas (incentivos consoante os resultados, por exemplo). Se a primeira é uma condicionante inultrapassável a segunda não pode continuara a ser ignorada pela escola pública.
.
A este propósito coloquei comentário a "post" do Jumento (O Colégio da Cova da Moura contra o Colégio do Planalto)
.
.
O fundamento do seu argumento, que no fim de contas se sustenta na negação da possibilidade de comparação, tem um perigo: o de branquear as diferenças e, deste modo, não atacar as razões que lhe estão na origem.Se, conforme propõe Francisco Louçã, o ranking deve ponderasse todos os factores ditintivos, no fim não haveria ranking porque o ranking só existe se reflectir as diferenças quaisquer que elas sejam.A comparação da Escola da Cova da Moura com o Planalto não é um exercício sem sentido porque o mais importante que poderá retirar-se da sua leitura é a análise das razões para, a partir daí, atacar os problemas que lhe estão subjacentes. É evidente que "o cheque-ensino" não é uma dessas medidas. Mesmo nos EUA onde o sistema foi implementado pela administração Bush o cheque-ensino é atribuido em locais onde manifestamente não existem escolas públicas que demonstrem capacidade pedagógica suficiente.Deixemos, pois, a questão do "cheque-ensino", que pode ser argumento para alguns radicais liberais mas que, inquestionavelmente, por muitas razões, não tem viabilidade , mesmo que tivesse interesse, em ser aplicado em Portugal. Deixemos também a questão muito batida da dicotomia ensino público/privado porque há razões que são conhecidas, nuns casos, e razões que são negligenciadas, como v. refere, noutros casos.
.
Convido-o para um pequeno exercício que poderá ser muito mais útil:Na Figueira da Foz há 8 escolas secundárias no ranking, uma das quais é privada.(vd. Público de hoje) Das públicas, escolhamos 2, ambas com 50 exames ou mais, ambas situadas dentro da cidade: Joaquim de Carvalho (posição 47); Bernardino Machado (649). Da Joaquim de Carvalho à Bernardino Machado vai uma distância que não deve atingir 1 quilómetro. Como explicar as diferenças de "performance" entre as duas?
.
Tentei perceber das raz ões e disseram-me que as mais evidentes decorrem de um ciclo virtuoso instalado na Joaquim de Carvalho, onde um corpo docente competente elege um conselho directivo competente; na Bernardino Machado, ao contrário, um conselho directivo displicente é eleito por um corpo docente onde prepondera o laxismo, e gera um ciclo vicioso. E, no entanto, os salários são os mesmos.É pacífico reconhecer que há muita gente que não desempenha as suas funções em função dos incentivos pecuniários que recebe. Mas é também pacífico que a maior parte da humanidade funciona em função desses incentivos.
.
E aí tem v. também uma das razões pelas quais há diferenças significativas entre ensino público e privado.Há muita coisa a fazer no ensino público. (...)
.
A terminar gostaria de acrescentar um ponto que ainda não vi ainda abordado: um ranking da progressão no ranking ao longo do tempo. Um ranking que fizesse ressaltar a progressão no pelotão e suscitasse o incentivo à progressão.

2 comments:

Anonymous said...

Caro Rui Fonseca,

Desculpe que lhe diga, mas o Sr, não percebe nada de análise a rankings de escolas, muito menos deve opinar sobre educação, porque certamente ignora que na relação educativa há múltiplos factores que contribuem para o sucesso ou insucesso dos alunos (mesmo em escolas que distam 1 km). No caso em apreço das escolas que refere, de facto estão a cerca de 2 km de distância, mas trabalham com uma população-alvo que está a muitos mais kms de distância, ou mais ainda, que está a uma distância enorme em termos de origem socioeconómica: a Joaquim de Carvalho (o tradicional Liceu)é cada vez mais uma escola de elites, pescando nas EBs da cidade os melhores alunos (e só os melhores alunos, se necessário turmas inteiras!!), por compadrio com a cúpulas dessas escolas e da DREC; a ESBM (a Escola)fica com os "restantes", ou seja, mais de metade dos seus alunos frequentam cursos profissionais e CEFs, cujo o principal objectivo não é o prosseguimento de estudos, antes pelo contrário; são normalmente alunos que vêm de percursos alternativos da João de Barros, das Alhadas, do Paião, etc., das freguesias de São Pedro. de Lavos, de Vila Verde, do Bom Sucesso, da «zona velha» da cidade, e muitos outros aspectos que nem lhe passa pela cabeça, caro senhor!! Teria muito mais para lhe contar e ensinar, mas por agora basta... Ah! Também existem explicações de carácter político, principalmente, ligado aos "pseudo-socialismos" que germinam nesta cidade liderados por alguns "segregadores sociais" muito bem disfarçados, mas nem quero entrar por aí!!!

Anonymous said...

...e eu digo mais, caro colega: gostaria de ver o corpo docente competente da Escola Joaquim de Carvalho a lidar com os alunos dos CEF e Profissionais, que o corpo docente competentíssimo da Escola Bernardino Machado lida todos os dias.