Friday, June 29, 2007

O PAPEL DA CHINA - 3


Tavares Moreira analisa no Quarta República os riscos políticos decorrentes dos desequilíbrios nas trocas comerciais decorrentes da globalização.
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Transcrevo
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Globalização: riscos políticos

Foi esta semana noticiado que o Governo Federal da Alemanha se prepara para criar uma agência com funções semelhantes às do EUA Committee on Foreign Investment (Cfius) .O Cfius é um organismo de tipo transversal, integrando representantes de vários Departamentos do Estado, incumbido de supervisionar o investimento estrangeiro podendo dirigir recomendações ao Presidente para bloquear investimentos estrangeiros que sejam considerados de risco para a segurança nacional .Assim aconteceu no ano transacto com a proibição da aquisição de alguns portos marítimos nos EUA por parte de um Fundo estrangeiro (de capitais árabes, salvo erro).O motivo apontado para esta próxima iniciativa do Governo alemão é o receio de que empresas ou fundos controlados por Governos de reputação democrática muito baixa - como é o caso da China, da Rússia e de alguns países produtores de petróleo - possam, com o enorme poderio financeiro que têm vindo a acumular, adquirir posições influentes ou mesmo de controlo em sectores económicos estratégicos.Este é claramente um dos riscos maiores da globalização: nem todos os países jogam com as mesmas regras e, em economias como a China, a Rússia e Arábia Saudita, é bem conhecido que a gigantesca acumulação de reservas está fortemente concentrada no sector público e como tal sujeita a controlo político.O investimento dessas reservas obedece em boa parte a motivações políticas (por exemplo manter um câmbio da moeda nacional artificialmente baixo) e pode facilmente transformar-se num instrumento de pressão política doutro tipo.Convém não esquecer que as reservas oficiais da China, por exemplo, ultrapassam já USD 1,3 triliões e estão crescendo ao ritmo quase inimaginável de USD mil milhões por dia!A este ritmo, a China durante o ano 2008 atingirá os 2 triliões de dólares em reservas, controladas pelo poder político e então pode comprar “quase tudo”.Veja-se, por exemplo, a força dos capitais chineses em África, para nós mais conhecida no caso de Angola, onde puseram à disposição do País vários milhares de milhões de USD – para começar.Daí que os Governos de economias muito mais abertas e sem o mesmo controlo político sobre a riqueza financeira tenham de se acautelar para não caírem na situação de “casa assaltada, trancas à porta”.A Globalização é muito “bonita” mas também tem destes riscos...
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Comentei:
A questão da acumulação de divisas norte-americanas (não só, mas sobretudo)tem sido dos assuntos económicos mais debatidos de há alguns tempos a esta parte.
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Na penúltima edição do Economist, mais uma vez o assunto é abordado e, mais uma vez, as opiniões não são, nem de longe nem de perto, coincidentes. Analistas ao serviço de reputadas instituições financeiras discordam entre limites que vão de 50% de subvalorizaçãon do yuan relativamente ao dólar até à sobrevalorização da moeda chinesa.
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Afinal a medida de equilíbrio de uma taxa de câmbio é muito mais subtil que o câmbio via BigMac pode sugerir.
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As discordâncias, contudo, não se quedam pela taxa de câmbio mas também pela vantagem em pressionar a China a deixar valorizar a sua moeda. Há quem veja na actual situação uma boa fórmula de proporcionar aos chineses o prazer de trabalhar, não receando os norte-americanos uma súbita queda do dólar que, se ocorresse, em consequência de uma inundação de dólares no mercado, traria maiores perdas para outros países que para os EUA.Entretanto, alguns avisos têm sido enviados: imposição de uma taxa alfandegária elevada sobre a importação de um tipo de papel com uma participação mais que negligente nas transacções entre os dois países, obrigatoriedade de destruir 400 mil pneus, supostamente não conformes com as exigências de qualidade, etc.
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De tudo me assalta uma questão motivada por este seu "post" de hoje: Uma acumulação de reservas tem, pelo menos, um limite: aquele a partir do qual os seus detentores decidem livrar-se delas.Se a esses detentores não for possível adquirir activos imobiliários ou mobiliários em qualquer parte do mundo, que alternativas lhes restam se não deixarem de gostar de trabalhar tanto?
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Quem ganha com isso?
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Alguns sectores mais libertários, inspirados na Escola Austríaca, voltam a repor a ideia do retorno ao Padrão Ouro. Com a dimensão que os fluxos financeiros internacionais atingiram faz algum sentido esta proposta?

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