Saturday, June 09, 2007

E NÃO HÁ GENTE HONESTA POR CÁ?

Caro J

Lendo "Alguns estereótipos de directores-gerais", onde V. dá, mais uma vez, conta da sua amargura por viver entre ruínas, perguntei-lhe, mas fiquei sem resposta: Que fazer?
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O seu "post" recordou-me aquela história batida do viajante solitário que, chegado a uma cidade que não conhecia, indagou ao motorista que hipóteses teria de garantir uma companhia para a noite. Respondeu-lhe o motorista, à medida que o táxi avançava para o hotel: Muitas. Vê aquela além? Vai. Vê aquela ali? Também vai. E a outra, ao lado? Também. Para encurtar razões, segundo o motorista, todas as mulheres que passavam na rua estariam ao alcance fácil do viajante para aquela noite. Pergunta o viajante solitário, surpreendido, ao motorista esclarecido: E não há mulheres honestas nesta cidade?
Há, mas são caras, respondeu-lhe, cinicamente, o motorista.
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Assim são os directores-gerais na Administração Pública?
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A minha perspectiva, aquela que retiro do lado de cá do balcão, não me permite retirar conclusões tão azedas. É bem provável, contudo, que o amiguismo que prepondera como critério dominante na designação dos quadros superiores da função pública atribua responsabilidades a muitos que não têm capacidades mínimas para as assumir.
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E é, por essa razão, que é essencial responder à questão - Que fazer? - e nada gratificante repetir à saciedade (e certamente com muito exagero) que todos são incompetentes ou capturados.
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E é essa a resposta que ninguém parece querer dar de forma séria (nem os políticos, nem os sindicatos, nem as associações profissionais) que tarda.
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E que não parece poder ser outra: a da selecção dos melhores através de concursos presididos por júris idóneos.
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Não. Não podemos aceitar que nenhuma idoneidade é possível, porque, se assim fosse, teríamos de começar por questionar a nossa própria. A idoneidade da família do motorista, afinal de contas.

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