Já várias vezes anotei neste caderno de apontamentos a minha estranheza pela generalizada ausência de intervenções dos partidos políticos, de todos os quadrantes, ou de comentários nos media ou nos blogs, a respeito da desmesurada dimensão das forças armadas que temos após 40 anos do fim da guerra colonial. Regra geral, as intervenções políticas, da esquerda à direita, são de encarecimento do papel das forças armadas enquanto garante da soberania nacional, mas são afirmações redundantes porque ninguém recusará atribuir à missão das forças armadas o seu justo valor. Aparentemente, pelo menos, há, quanto a este tema, da parte dos partidos políticos em Portugal uma reserva de submissão que pode decorrer de receio de eventual sublevação militar que remete este assunto, de enorme importância, para os arquivos dos tabus com carimbo de "explosivo perigoso". Dito de outro modo, o dossier militar parece censurado pelo medo de ser tocado sequer.
É verdade que as forças armadas têm vindo a ser reestruradas, aumentando-lhe o peso qualitativo e reduzida a dimensão quantitativa, nem sempre da forma mais adequada - o fim do serviço militar obrigatório foi, do meu ponto de vista, um erro que fere gravemente a obrigação cívica de todos os portugueses na missão de defesa -, mas é flagrante a desproporção da dimensão quantitativa das forças armadas portuguesas no contexto da Nato, a organização de que Portugal é membro fundador e, fora da qual, nenhuma estratégia de defesa faz hoje sentido.
Ainda anteontem, e mais uma vez, aquela desproporção foi ressaltada num orgão de grande difusão internacional, o Financial Times, na realidade o mais difundido, a propósito do conflito na Ucrânia - Ukraine: Russia´s new art of war.
Este gráfico é surpreendente porque evidencia enormes disparidades no esforço dado pelos diferentes membros a uma causa comum: a defesa conjunta de todos eles relativamente a blocos estratégicos eventualmente inimigos. Lê-se este gráfico e pergunta-se, por exemplo: Por que é que o Luxemburgo, que detem o quarta lugar de país com mais elevado PIB per capita no ranking do PNUD - vd. aqui, pag. 160 -, é aquele que contribui com menos esforço relativo no âmbito da Nato? Por que é que Portugal está acima do esforço médio, um esforço superior ao da Itália, da Dinamarca, da Alemanha, da Holanda, da República Checa, do Canadá, da Bélgica, de Espanha, entre outros? Por que é o esforço de Portugal é apenas superado pelos EUA, Grécia e Turquia (membros inimigos latentes entre si) , Reino Unido e França?
O esforço de Portugal será de cerca de 2,3% do PIB (0,3% acima do
objectivo!), o de Espanha cerca de 0,9%. A diferença entre os dois
países ibéricos é de 1,4%. Se a relação fosse inversa, por aplicação de
um critério de progressidade, Portugal pouparia anualmente 1,4% do PIB
no seu esforço de defesa integrado na Nato.
Haverá alguém que me possa explicar porque não, se for inválida a minha explicação do "medo dos militares" que sustenta a censura interna a uma discussão livre do assunto?
2 comments:
È uma vergonha estes eleitores. Até arranjam "justificação" para as boas compras dos submarinos.
As perguntas que coloca neste poste são a sério? Ou são uma manifestação de indignação em que substituiu os pontos de exclamação por pontos de interrogação?
Se a primeira hipótese for a válida creio que lhe posso dar algumas pistas de investigação para uma tradição portuguesa de décadas, oriunda, segundo creio, do ministério dos negócios estrangeiros que sempre se esmerou em «robustecer» este indicador da % do PIB alocada às despesas com a defesa para que fizéssemos «boa figura» nos fóruns internacionais.
Claro que detalhando a composição das despesas alocadas à defesa poder-se-ão encontrar «curiosidades» como o complemento da pensão de reforma do sargento-chefe, quando se me afigura duvidoso que as pantufas do dito militar possam ser equiparadas a outro material de guerra passível de ser accionado em situação de crise.
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