Thursday, August 21, 2014

COM COSTELA DE JUDEU*

Passos Coelho disse há dias no discurso do Pontal que "o PSD tem inscrito no seu ADN a defesa dos interesses do país acima de quaisquer outros". Mas não disse que é o único partido que pode vangloriar-se dessa metafórica inscrição patriótica, até porque seria uma afirmação indemonstrável. Como é legítimo supor-se que não há partido nenhum que se vanglorie do contrário, a afirmação do lider do PSD foi apenas uma dessas tiradas demagógicas que excitam os adeptos mas não provam nem projectam nada. 

É hoje em dia muito frequente o uso metafórico do ácido desoxirribonucleico (ADN), uma molécula que incorpora instruções genéticas que activam o desenvolvimento de todos os organismos vivos conhecidos e muitos vírus, e a sua transmissão hereditária. Cientificamente, o ADN correlaciona os membros de um qualquer grupo de seres vivos  se existirem ligações biológicas ascendentes entre eles, sendo possível identificar as ligações dos membros de um grupo biologicamente caracterizável e a evolução desse grupo ao longo do tempo e do espaço. Provavelmente o grupo humano mais estudado até hoje é o geralmente denominado "povo judeu". Na Wikipedia, a entrada - Genetic Studies on Jews - é suficientemente esclarecedora da diáspora judaica. 

Vem todo este arrazoado a propósito da atribuição - cf. aqui -  à iraniana Maryam Mirzakhani do prémio "Fields" considerado o "Nobel"  da matemática. O que espantou, ou maravilhou,  a comunidade científica mundial foi o facto do "Fields" ter sido atribuido pela primeira vez a uma mulher e iraniana, condições que a inscrevem duplamente nos records da história da ciência. Maryam Mirzakhani é hoje professora nos Estados Unidos mas a sua formação universitária decorreu, até ao doutoramento, no seu país natal. Considerando as restrições à emancipação feminina na generalidade dos países islâmicos e, particularmente, no Irão, a fulgurante ascensão de Maryam é, a todos os títulos, notável.

Mas se as circunstâncias foram espantosamente ultrapassadas por Maryam, em que medida é que algumas marcações no ADN nos membros de um grupo, biologicamente relacionados entre si, ainda que remotamente, espacialmente dispersos em sub grupos, sobrelevam com uma frequência notável as circunstâncias no sucesso científico de um grupo de indivíduos?
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Judeus ou descendentes de judeus laureados com Prémio Nobel - cf. aqui- apresentam um sucesso impressionante relativamente ao número total de indivíduos do grupo, o que continua a colocar uma questão antiga ainda sem resposta aceitável: A que se deve o ascendente científico, medido em termos de prémios Nobel, dos judeus sobre os outros povos? O ADN? A religião, que os motivou, e motiva,  a cumprir o seu destino de povo eleito na Terra, tal como a doutrina calvinista da predestinação motivou os povos do Norte da Europa?

(Continua)
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Correl.-  Cristiano Ronaldo tem costela cabo verdeana
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* Este apontamento e o seguinte foram suscitados por um e-mail recebido há uns dias, mas que circula na internet há já bastante tempo, confrontando o sucesso científico dos judeus  traduzido na extensa lista de  prémios Nobel atribuidos com a lista quase em branco de prémios Nobel atribuidos a islâmicos. Com estes apontamentos, procuro demonstrar que se trata de uma perspectiva errada de observação do conflito que opõe israelitas e palestinianos, agora perigosamente potenciado pela intervenção desenfreadamente fanática e generalizada do "Estado Islâmico".

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