Monday, August 04, 2014

O BES NÃO É O BPN

Segundo Carlos Costa o "Novo Banco " está já esta manhã convenientemente financiado, consoante os regulamentos de Basileia III e as novas regras da União Europeia de recapitalização dos bancos com a borda debaixo de água e risco de afundamento. E, enquanto o senhor Costa esfregava um olho, foi criado um banco novo em folha, sem espinhas, que garante sem contaminações tóxicas a continuidade das boas práticas do intoxicado, os depósitos aos excelentíssimos depositantes e, milagre dos milagres, sem custar um cêntimo aos contribuintes. E, para que não restem dúvidas, ao longo do seu comunicado de ontem à noite, o senhor Carlos Costa repetiu e repisou vezes que nem contei, a sua garantia de intocabilidade dos depósitos e dos contribuintes. É de génio!

Quanto vale a garantia dada pelo senhor Carlos Costa? 
Tanto quanto valeram as suas repetidas e repisadas declarações anteriores recentes de que o banco estava isento de contaminações tóxicas que pudessem abalar a sua solvabilidade e livre de impor o socorro do Estado. Enganou-se estrondosamente. Enquanto assistia divertido no Porto a uma dissertação do professor Bessa, que ridicularizou o seu antecessor Constâncio, o senhor Ricardo Salgado comia-lhe as papas na cabeça e entornava o prato sobre os senhores contribuintes. Ele próprio reconheceu ontem à noite não ter prendido com rédea curta o senhor Ricardo Salgado depois de o  ter despedido e à família da  gestão do banco. Como não fez o que era elementar fazer, considerando os antecedentes próximos e remotos, o senhor Carlos Costa permitiu que o senhor Ricardo Salgado fizesse ao buraco do banco a que presidia o que os gestores da Caixa Geral de Depósitos fizeram ao buraco do BPN: duplicaram-no. 

Garante o senhor Costa os depósitos? Não garante nada. Quem garante os depósitos é o empréstimo da troica intermediado pelo Estado, isto é, garantido pelos impostos dos contribuintes. Se  o banco, limpo e suficientemente financiado for vendido por um valor muito inferior ao empréstimo de quase cinco mil milhões de euros - o BPN foi vendido por 50 milhões menos uns quantos acertos ainda em vias de discussão - por quanto será vendido o "Novo Banco"?  Quem paga a diferença? Os outros bancos? Se assim fosse, por que se atravessaria o Estado no negócio assumindo a quase totalidade do capital do anedótico "Fundo de Resolução"

Disse-se que o BPN e o BPP eram casos de polícia pelos indícios de crimes e desmandos, ainda por julgar, praticados pelos que propositadamente os desgovernavam. O senhor Carlos Costa referiu-se ontem à noite a actos do mesmo estilo praticados pela administração presidida por Ricardo Salgado.

BPN, BPP, BES, que diferença fazem, excepto nos tamanhos?
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(5/8) - "Novo Banco" vale 4,4 mil milhões de euros?"
(5/8) - Otro rescate portugués
 El Gobierno portugués ha acudido con prontitud al rescate del Banco Espírito Santo (BES), cuya mala gestión durante la crisis financiera ha provocado unas pérdidas semestrales de 3.577 millones de euros, el hundimiento casi total de sus acciones y una situación de quiebra. El caso Espírito Santo confirma que todavía colean en la banca europea los efectos de la crisis financiera, agudizados por una gestión muy deficiente. El equipo económico de Passos Coelho pretende convencer de que el rescate del banco no costará dinero a los contribuyentes lusos; pero este objetivo sólo es una declaración de intenciones. Como ha demostrado la capitalización de una parte de la banca española, es muy difícil evitar que los contribuyentes acaben pagando una parte de la reestructuración del banco.
Según el plan expuesto por el gobernador del Banco de Portugal, Carlos Costa, los activos solventes del BES se integrarán en Novo Banco, que se adjudica al Fondo de Resolución Bancaria (formado con capital de bancos privados) y dotado con una inyección de capital de unos 4.400 millones aportados por el Estado (se supone que de forma transitoria) que proceden, a su vez, del dinero aportado por Bruselas para la reestructuración bancaria portuguesa. Los activos insolventes quedan en el BES bajo la responsabilidad de los accionistas actuales (la familia Espírito Santo y Crédit Agricole principalmente). La idea básica es devolver los 4.400 millones con lo que se obtenga de la venta de Novo Banco.

Pero, se mire como se mire, los 4.400 millones son capital público y están avalados por el Estado. Lisboa tendrá que devolver el capital recibido de la troika. Es pronto para decirlo, pero parece improbable que la venta del banco proporcione los 4.900 millones que ha costado su recapitalización al Estado y el Fondo de Resolución; también es poco probable, por tanto, que no haya pérdida para el contribuyente.

2 comments:

Pinho Cardão said...

Oh Rui, como podes dizer isso, a diferença é total!
No caso do BPN, houve uma nacionalização de todo o Banco, sem terem sido retirados os activos tóxicos. O resultado de tal " favor" tem vindo a ser pago pelos contribintes.
No caso BES, os activos tóxicos foram expurgados e não entraram no Banco Novo. Para não falar das perdas dos accionistas e dos obrigacionistas deu divida subordinada.
O Novo Banco começa como um banco são, capitalizado, com gRande presença no mercado, dotado de recursos humanos de qualidade. Nada de comparações.

Rui Fonseca said...

Caro António,

Muito obrigado pelo teu contributo.
Das semelhanças que referiste escolheste uma diferença: o modo de intervenção do Estado.

Essa intervenção é diferente? Pudera, depois de conhecidos os erros cometidos anteriormente alguma coisa deve ter sido aprendida. Mas, com especial responsabilidades do BP, a fiscalização e supervisão voltaram a falhar estrondosamente.

Quanto ao modelo de intervenção, parece que banqueiros e caixeiros (os da CGD) não ficaram satisfeitos com a novidade e duvidam que a venda do "novo banco" possa realizar-se num prazo tão curto.

Não teria sido mais inteligente tê-los convocados para a discussão da menos má solução a tomar e amarrá-los inequivocamente ab initio às responsabilidades que a lei actual lhes atribui?

Pode ser que tudo acabe em bem mas a mim cheira-me já a esturro.