Saturday, August 09, 2014

MISSÃO QUASE IMPOSSÍVEL

O jornalista perguntou a Vitor Bento, naquele jeito dele de perguntar afirmando,  se o "Banco Novo" não teria de ser reestruturado, implicando isso redução de balcões e trabalhadores. O entrevistado, depois de considerar que, obviamente, ainda não tinha tido tempo para poder precisar as medidas a adoptar, foi admitindo que "é provável que o "Novo Banco" tenha que reduzir balcões e trabalhadores", uma forma de adiar dizer que é inevitável. 

Quando Vitor Bento foi convidado por Ricardo Salgado para presidir ao BES, em consequência da imposição feita por Carlos Costa a Salgado de o afastar da presidência do banco, o discurso do governador do Banco de Portugal garantia a solvabilidade do BES, havia apenas uma dívida provavelmente incobrável  do GES mas acomodável por uma almofada sem colocar em risco os níveis exigidos. Vitor Bento aceitou o cargo mas colocou como condição o prévio encerramento das contas pela gerência cessante. Acabou, pressionado pelo andamento turbulento, e provavelmente criminoso, dos acontecimentos subsequentes, por assumir a presidência sem as contas fechadas. E foi apanhado numa rede de que muito dificilmente se poderá desenvencilhar airosamente. 

O "Novo Banco", apesar de supostamente desvinculado dos activos problemáticos, encontra-se no centro de um emaranhado de conflitos de interesses que, inevitavelmente, agravarão ainda mais as ameaças que impendem sobre os trabalhos de metamorfose para uma entidade de que ninguém conhece a forma definitiva. Os conflitos laborais decorrentes da inevitabilidade do redimensionamento não serão, certamente, os de resolução mais complexa. Os mais imediatos decorrerão da capacidade do sistema financeiro se entender acerca do modo mais conveniente para todos de o "Novo Banco" subsistir, com esse ou outro nome, autónomo ou integrado pelos concorrentes. Em qualquer caso, é de supor que se Ricardo Salgado não tivesse mentido a Vitor Bento, se a situação real do banco fosse conhecida, isto é, se as contas tivessem sido encerradas antes da sua tomada de posse, como ele pretendia, Vitor Bento não teria aceitado a missão impossível. 

Há alguns tempos atrás, não imaginava que o BCP pudesse vir a reembolsar o Estado do empréstimo troica para recapitalização. Errei, mas ainda não sei como - o BCP tem vindo a declarar desde então milhões de prejuízos - pois apesar do recente aumento de capital e da alienação de alguns activos, é estranho que tenha gerado cash flow suficiente para amortizar o empréstimo, agora em cadência acelerada, sem desequilibrar os níveis que repôs com a recapitalização. Espero que esteja a errar também agora quando considero quase impossível a tarefa que Vitor Bento tem às costas, e com a qual, na parte mais pesada, ele não contava.
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A discussão do escândalo BES tem sido polarizada na via adoptada, mas é uma discussão sem sentido. Nas circunstâncias que a determinaram todas as soluções seriam más. Esta é, possivelmente, a menos má. O que aconteceu, e não devia ter acontecido, foi a reincidência na distracção, na incompetência, dos reguladores, claramente ludibriados por quem eles sabiam se tinha declarado já inequivocamente dolosamente faltoso. 
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Correl. - Seguro contra despedimentos no "Novo Banco"
O Expresso publica hoje resultados de uma sondagem que coloca a coligação PSD/CDS à frente do PS se as eleições legislativas de realizassem agora: uma quase impossibilidade que Seguro tornou possível.

1 comment:

Unknown said...

Se tinham nitidamente mostrado trafulhas;é aqui que acho que os cidadãos se devem sentir bem enganados = vendem-lhe que os ordenados e premios chorudos para o nivel geral de salarios se justificam pela responsabilidade e...onde para a responsabilidade? e a vergonha? e a decencia?
volta salazar precisamos que voltes!!!