O senhor Abebe Selassie, chefe da missão do FMI em Portugal, em entrevista do DN afirma, entre outras coisas, que "medidas extraordinárias mascaram a consolidação orçamental". Não é necessariamente assim, (se receitas extraordinárias pagarem despesas extraordinárias de igual montante o saldo estrutural não é alterado) mas foi quase sempre assim no passado, com o consentimento do Eurostat. Aliás, encontra-se ainda pendente de uma decisão definitiva deste orgão da UE a aceitação da receita da venda da Ana na redução do défice deste ano, que, no entanto, quanto é do conhecimento público, não se prende com este critério mas com o objecto da privatização em causa.
Tivesse o Eurostat adoptado antes um critério diferente e, provavelmente, o endividamento público não teria ido tão longe porque teriam ocorrido algumas medidas de racionalização dos serviços prestados pela função pública. Miguel Cadilhe propôs, há alguns anos já, a redução do número de funcionários públicos com recurso à venda de parte das reservas de ouro para o pagamento de indemnizações. Nunca mais se falou do assunto e, repito-me, continuo sem perceber por que razão Portugal, com a dívida enorme que tem, e que não vai parar de crescer tão cedo, contrariamente ao que afirma o ministro das Finanças, continua a deter um dos mais elevados rácios do mundo de reservas em ouro por mil habitantes. O critério adoptado, e que pelos vistos ainda se mantém, é permissivo da mascarada que Selassie refere.
Para além de algumas claras contradições que ontem apontei aqui nos discursos dos responsáveis do FMI, a começar pela senhora Christine Lagarde, o senhor Selassie, afirmou na entrevista ao DN que "O dinheiro emprestado pela troika é muito barato". Este é um tópico que, pelo facto de raramente ser referido nas declarações dos membros da troica, e igualmente ignorado pelo governo quando a questão da redução da despesa pública é abordada, mereceria um contraponto que o entrevistador, - vd aqui - não colocou. E, no entanto, os juros têm um peso relativo considerável, cerca de 8% - no total da despesa pública, e não retrocederão enquanto a dívida ultrapassar o PIB e o crescimento económico ficar aquém da taxa de custo da dívida, uma situação altamente improvável em tempo útil se não houver uma redução dos juros e uma extensão, a perder de vista, do termo de parte ( 60%?) da dívida.
O senhor Abebe Selassie pode considerar barato o empréstimo da troica (não sabemos como considerará o financiamrnto a taxas negativas da dívida soberana da Alemanha) mas também sabe que Portugal não tem condições para pagar a dívida e os juros no contexto de crise em que se encontra e da qual, porque envolvido num círculo vicioso de dívida - juros - recessão - dívida - não sairá pelo seu próprio pé. Se o senhor Selassie não sabe isto não sabe nada de relevante da realidade portuguesa.
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Correl. - Portugal tem pouca margem para pedir condições mais vantajosas.
Se tem pouca margem para obter redução de juros não tem margem nenhuma para pagar os que (não) está a pagar. Porque se paga os juros que paga, paga-os com aumento da dívida. E assim continuará a ser enquanto não produzir riqueza que permita pagar os juros e reduzi-la. Quando é que isso pode vir a ocorrer? Não no horizonte visível pelo senhor ministro das Finanças, segundo declarações suas.
Tivesse o Eurostat adoptado antes um critério diferente e, provavelmente, o endividamento público não teria ido tão longe porque teriam ocorrido algumas medidas de racionalização dos serviços prestados pela função pública. Miguel Cadilhe propôs, há alguns anos já, a redução do número de funcionários públicos com recurso à venda de parte das reservas de ouro para o pagamento de indemnizações. Nunca mais se falou do assunto e, repito-me, continuo sem perceber por que razão Portugal, com a dívida enorme que tem, e que não vai parar de crescer tão cedo, contrariamente ao que afirma o ministro das Finanças, continua a deter um dos mais elevados rácios do mundo de reservas em ouro por mil habitantes. O critério adoptado, e que pelos vistos ainda se mantém, é permissivo da mascarada que Selassie refere.
Para além de algumas claras contradições que ontem apontei aqui nos discursos dos responsáveis do FMI, a começar pela senhora Christine Lagarde, o senhor Selassie, afirmou na entrevista ao DN que "O dinheiro emprestado pela troika é muito barato". Este é um tópico que, pelo facto de raramente ser referido nas declarações dos membros da troica, e igualmente ignorado pelo governo quando a questão da redução da despesa pública é abordada, mereceria um contraponto que o entrevistador, - vd aqui - não colocou. E, no entanto, os juros têm um peso relativo considerável, cerca de 8% - no total da despesa pública, e não retrocederão enquanto a dívida ultrapassar o PIB e o crescimento económico ficar aquém da taxa de custo da dívida, uma situação altamente improvável em tempo útil se não houver uma redução dos juros e uma extensão, a perder de vista, do termo de parte ( 60%?) da dívida.
O senhor Abebe Selassie pode considerar barato o empréstimo da troica (não sabemos como considerará o financiamrnto a taxas negativas da dívida soberana da Alemanha) mas também sabe que Portugal não tem condições para pagar a dívida e os juros no contexto de crise em que se encontra e da qual, porque envolvido num círculo vicioso de dívida - juros - recessão - dívida - não sairá pelo seu próprio pé. Se o senhor Selassie não sabe isto não sabe nada de relevante da realidade portuguesa.
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Correl. - Portugal tem pouca margem para pedir condições mais vantajosas.
Se tem pouca margem para obter redução de juros não tem margem nenhuma para pagar os que (não) está a pagar. Porque se paga os juros que paga, paga-os com aumento da dívida. E assim continuará a ser enquanto não produzir riqueza que permita pagar os juros e reduzi-la. Quando é que isso pode vir a ocorrer? Não no horizonte visível pelo senhor ministro das Finanças, segundo declarações suas.
2 comments:
Essa da venda do ouro é demagogia barata, não só porque neste momento não representará mais do que 6% da divida e porque só nos ultimos 10 anos já foram vendidas cerca de 200 tons. com os brilhantes resultados que se constatam.A manter-se o rirmo, aliás, daqui a 20 anos já não se falará em ouro. Possivelmente estar+a brepartido no bolso de Patos , Bravos & Cia ( Limitadissima).
Com este regime interpretes nem aneis nem dedos.
Fui ver se havia notícias recentes acerca das reservas de ouro do Banco de Portugal e encontrei este artigo da RTP que, parece-me, confirma a pertinência das minhas dúvidas expressas também neste apontamento.
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=597651&tm=6&layout=121&visual=49
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