Gosto de Espanha.
Habituei-me desde muito novo a ver e ouvir a convivialidade de salmantinos, zamoranos, entre outros, que do planalto desciam no Verão até à beira-mar da minha juventude. Ainda hoje, apesar da translacção das rotas do turismo balnear nas praias a partir da década de 60, mantem-se uma presença relevante que, de geração em geração, se tem renovado ao longo de muitas décadas. Em viagens de turismo ou profissionais percorri Espanha de ponta a ponta e, dessas deslocações, guardo as mais gratas recordações. Com nenhum outro povo europeu existe maior identificação idiossincrática dos portugueses do que com os espanhóis, sejam eles galegos, andaluzes, bascos ou catalães. Esta proximidade sociológica, que não decorre apenas de factores geográficos, foi durante muitos anos contrariada por razões de estado circunstanciais que fomentaram atitudes de rejeição primária, mais propaladas pela ignorância do que por razões objectivas. A raia foi até ao desmantelamento das fronteiras na sequência da adesão de Portugal e Espanha na União Europeia uma linha de demarcação de empobrecimento de um lado e doutro da fronteira, porque era uma parede de estrangulamento das comunicações entre vizinhos.
Hoje, a esta hora (21,38 de Lisboa) leio no El País, e congratulo-me, que Artur Mas, o ambicioso presidente da Catalunha não conseguiu atingir o objectivo de conquistar a maior absoluta no parlamento catalão para, a partir daí, lançar um referendo sobre a independência da região a que preside. Com estes resultados, Mas poderá, apesar deste revés, vir a insistir numa trajectória que nem servirá melhor a Catalunha, nem a Espanha, nem a União Europeia, nem Portugal, mas ficou a saber, a partir de hoje, que o povo da Catalunha, na sua maioria tem uma percepção dos riscos que incorreria se aderisse ao golpe do seu presidente.
A desintegração de Espanha, se ocorresse nesta altura em que o edifício europeu apresenta fissuras tamanhas e ainda não estão instaladas as estruturas que possam evitar o seu desmoronamento, poderia ter um efeito precursor replicador daquele que a guerra civil espanhola representou relativamente à emergência do fascismo e do nazismo na Europa, que incendiaram a Europa e o mundo.
Há setenta e cinco anos, os espanhóis matavam-se estupidamente uns aos outros. Seria trágico para eles e para os europeus em geral que as novas gerações não tivessem aprendido os custos incalculáveis de um conflito que pode espoletar se um qualquer pretenso iluminado arrastar atrás de si a irracionalidade emotiva da maioria do povo da Catalunha, ou do País Basco, ou da Galiza, por mau exemplo.
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*Correl. -Espanha não pode perder a Catalunha
- Umbrage in Catalonia
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*Correl. -Espanha não pode perder a Catalunha
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