Há dias li numa dessas legendas que passam impressas por baixo das imagens televisivas que, segundo, um inquérito recente, se aos europeus fosse consentido votar nas eleições presidenciais da próxima terça-feira, 90% votariam em Obama. Mas os europeus não votam nos EUA, e os norte-americanos só no fim do dia 6 saberão quem será o seu próximo presidente porque nas últimas horas que precedem a votação, apesar das perturbações causadas pelo Sandy que ainda subsistem (na zona de Nova Iorque cerca de um milhão de pessoas continua sem luz eléctrica) continua a disputa cerrada dos votos decisivos nos swing states.
Embora não votando, aos europeus não é indiferente a eleição de Obama ou Romney, por mais que muitos não descortinem, ou não queiram descortinar, diferenças relevantes entre um e outro, para além da cor da pele. Impotentes, sem voto na matéria nem palco suficientemente visível de onde possam influenciar aqueles que votam, o resto do mundo entretem-se com palpites inconsequentes e análises mais ou menos elaboradas em apoio das suas convicções. E se o resultado previsível não lhes convém, minimizam, quando não achincalham, o mérito da vitória dos que estão do outro lado.
A perspectiva de observação é tanto mais vesga quanto mais extremadas são as convicções ideológicas dos analistas ou simples comentadores em privado e explica, por exemplo, a razão pela qual o PCP nunca reconheceu sem reservas de justificações serôdias a perda de uma eleição.
No Expresso desta semana, dois colunistas habituais, um historiador, outro mestre na história, discorrem sobre as eleições do dia 6 nos EUA, resumindo os títulos das suas crónicas as suas mal disfarçadas desilusões acerca dos prováveis resultados da próxima terça-feira. Para um será "A derrota de Obama", porque Obama não era a solução em 2008, mas também não é o problema. O problema - se fizerem questão em que haja um problema - é o mundo; para o outro, Obama é " O pretinho Salazarista", porque se um político português defendesse um projecto obâmico seria acusado pela esquerda, que idolatra Obama, de querer o "regresso ao salazarismo".
Para o historiador, o problema é, redundantemente, o mundo; para o outro é a cor da pele, porque Obama limita-se a importar para os EUA os modelos de segurança social adoptados na Suíça, Alemanha ou Holanda, que a esquerda portuguesa rejeita mas o mestre na história aprova. No fim de contas, é à cor da pele de Obama que causa alergias ao historiador e ao jovem mestre na história.
Tanta conversa para uma confissão tão clara de rejeição racista.
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