Saturday, November 03, 2012

AS IMPOTÊNCIAS CIRCULARES

Há dias li numa dessas legendas que passam impressas por baixo das imagens televisivas que, segundo, um inquérito recente, se aos europeus fosse consentido votar nas eleições presidenciais da próxima terça-feira, 90% votariam em Obama. Mas os europeus não votam nos EUA, e os norte-americanos só no fim  do dia 6 saberão quem será o seu próximo presidente porque nas últimas horas que precedem  a votação, apesar das perturbações causadas pelo Sandy que ainda subsistem (na zona de Nova Iorque cerca de um milhão de pessoas continua sem luz eléctrica) continua a disputa cerrada dos votos decisivos nos swing states.
 
Embora não votando, aos europeus não é indiferente a eleição de Obama ou Romney, por mais que muitos não descortinem, ou não queiram descortinar, diferenças relevantes entre um e outro, para além da cor da pele. Impotentes, sem voto na matéria nem palco suficientemente visível de onde possam influenciar aqueles que votam, o resto do mundo entretem-se com palpites inconsequentes e análises mais ou menos elaboradas em apoio das suas convicções. E se o resultado previsível não lhes convém, minimizam, quando não achincalham, o mérito da vitória dos que estão do outro lado.
 
A perspectiva de observação é tanto mais vesga quanto mais extremadas são as convicções ideológicas dos analistas ou simples comentadores em privado e explica, por exemplo, a razão pela qual o PCP nunca reconheceu sem reservas de justificações serôdias a perda de uma eleição.
 
No Expresso desta semana, dois colunistas habituais, um historiador, outro mestre na história, discorrem sobre as eleições do dia  6 nos EUA, resumindo os títulos das suas crónicas as suas mal disfarçadas desilusões acerca dos prováveis resultados da próxima terça-feira. Para um será "A derrota de Obama",  porque Obama não era a solução em 2008, mas também não é o problema. O problema - se fizerem questão em que haja um problema - é o mundo; para o outro, Obama é " O pretinho Salazarista", porque se um político português defendesse um projecto obâmico seria acusado pela esquerda, que idolatra Obama,  de querer o "regresso ao salazarismo".
 
Para o historiador, o problema é, redundantemente, o mundo; para o outro é a cor da pele, porque Obama limita-se a importar para os EUA os modelos de segurança social adoptados na Suíça, Alemanha  ou Holanda, que a esquerda portuguesa rejeita mas o mestre na história aprova. No fim de contas, é à cor da pele de Obama que causa alergias ao historiador e ao jovem mestre na história.
 
Tanta conversa para uma confissão tão clara de rejeição racista.
 

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