Friday, November 16, 2012

JOGO DE ENGANOS

Ouço as declarações de deputados que participaram numa reunião com a troica. O deputado do PSD mostra-se satisfeito com a reunião, a troica mostrou, segundo ele, disponibilidade para aceitar medidas que possam impulsionar o investimento e o crescimento, nomeadamente a aceitação de uma taxa de IRC reduzida para novos investimentos; aliás, o ministro Santos Pereira tinha referido esse objectivo há dias. O deputado do CDS enfatizou que a redução estrutural da despesa pública é essencial à recuperação económica; o deputado do PS afirmou não ter ouvido qualquer disponibilidade, antes pelo contrário por parte da toica para encarar a adopção de medidas que possam permitir a recuperação económica: a troica mostrou-se inflexível, remetendo para o governo a responsabilidade dos resultados dos compromissos assumidos; o deputado do PCP acusou a troica de responsabiliade conjunta com o governo da situação desastrosa a que o país chegou; a deputada do BE estranhou a passividade do governo perante a fuga às responsabilidades da troica pelos resultados de um programa que ela mesma determinou. (vd  tb. aqui, aqui, aqui, aqui).
E fica-se com a impressão de um visionamento de um filme ao contrário.
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Enquanto alinhavo estas linhas, ouço o lider do PS afirmar que, após reunião com a troica, contata que mantem-se a insensibilidade da troica para a evolução da situação económica e social do nosso país e a incapacidade do governo para conseguir junto da troica uma inversão da política  que nos leva por um caminho que nem nos permite crescer, nem reduzir o desemprego, nem pagar a dívida.
 
Até agora, o primeiro-ministro (ou o ministro das Finanças?) tem sido acusado de obsessão pela austeridade como um caminho sem alternativa, assumindo, explicitamente, ter ido mais além daquilo que os compromissos assumidos pelo trio com a troica. As declarações dos deputados, que comecei por  referir, são, aparentemente, contraditórias com o sentimento anterior transmitido à opinião pública: afinal a troica parece insensível aos argumentos de todos os quadrantes políticos representados na AR e o síndrome do bom aluno  de que o governo tem sido acusado afinal uma impotência generalizada.  
 
O que é, afinal, chocante é que não sejam as diferentes forças políticas capazes de uma união susceptível de mostrar conjuntamente à troica aquilo que é evidente para todos, incluindo a troica: Portugal não tem nenhuma hipótese para cumprir os objectivos impostos pela troica e assumidos pelo trio em situação de necessidade extrema. Se a economia não recupera, e não recupera se continuar por onde tem andado, Portugal não pode reduzir a dívida nem pagar os juros. Definitivamente, essa incapacidade tem de deixar de ser tabu. À dívida tem de ser aplicado um "hair cut" e os juros têm de ser suportáveis. Se não, estas reuniões com a troica não passam de um jogo de enganos onde todos os participantes que têm poder de intervenção são comparsas.
 
Repito aquilo que já começa a ser uma convicção generalizada: Passos Coelho não pode continuar a governar como se, também ele, não estivesse sob tutela. A troica assinou um memorando de ajuda com um trio. Se na preparação e participação nas reuniões de avaliação com a troica continuar a não envolvido a tempo inteiro o primeiro subscritor do memorando de ajuda, a troica pode ir impondo o impossível e António José Seguro até pode, em situação de desespero colectivo, ser guindado a primeiro-ministro. Mas será um jogo perdido para todos, e para Seguro uma vitória de Pirro.

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