Aparentemente, mistérios há muitos, em Portugal são abundantes.
Há tantos que surpreendem mesmo os aforismos mais testados. Por exemplo, está há muito tempo e por todo o lado adquirido como certo sem espinhas que não há almoços grátis. Projectos grátis, há com certeza, almoços, não.
O financiamento dos partidos políticos é, diz quem sabe, uma fonte prodigiosa de corrupção. De tal forma que quem quisesse reduzir grande parte do caudal corrupto teria de secar o manancial que rega abundantemente os gastos partidários. Não havendo almoços grátis, quem dá, não dá, troca.
Nenhum partido, da esquerda mais extrema à mais extrema direita, dispensa o almoço mesmo se pouca coisa tem para oferecer por troca. A democracia não existe sem os partidos, os partidos não existem sem financiamentos, os financiamentos correm pelo rio da corrupção, logo, dirão os cínicos, não há democracia possível sem corrupção.
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É deste silogismo perverso que surgem os mistérios dos donativos aos partidos políticos. Que não são mistérios mas truques tacanhos que só não lhes descortina os passes quem não quer.
Porque é por demais evidente que as receitas dos partidos políticos e, portanto, os donativos e os doadores têm de ser investigados do lado das despesas. Se, durante as campanhas eleitorais, os partidos nos enchem praças, cruzamentos, ruas e azinhagas, com outdoors, se realizam acções de campanha planeadas e montadas por agências de marketing político, se recrutam mercenários para distribuição de material de campanha porque os militantes não são suficientes para dar conta do recado, se as paredes se enchem de cartazes e os postes de pendões de plástico, alguém terá de pagar o que o financiamento público não paga. E se é difícil saber quem pagou pode saber-se, sem grandes margens de erro, quanto custaram os arsenais de propaganda usados nas campanhas. Sabendo os gastos, saber-se-á quem os suportou.
Os empréstimos bancários deveriam ser proibidos.
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Os brandos costumes é o outro nome que em Portugal se dá ao laxismo e à falta de exigência, ao passa culpas geral, faz lá tu uma velhacaria e deixa-me a mim fazer duas, que não consentem mudar de vida e tirar o país do pântano.
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E demonstrar que a democracia não só é possível sem corrupção como só pode vivificar-se se acabarem as ocasiões que fazem os corruptos.
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Realmente, não há mistérios nestas coisas, há muitas lágrimas de crocodilo.
6 comments:
Em Espanha, um só corrupto tem de pagar uma fiança de 83 milhões!E tem um dia para arranjar o graveto.
Agora é ver os amigos a fugir.
Qualquer um que lhe empreste dinheiro, fica logo colado.
Assim, não precisam da eta.
António,
Corrupção há em todo o lado mas há mais nuns lados que noutros.
Em Portugal, é reconhecido que o financiamento dos partidos suscita muita corrupção.
O caso dos submarinos é paradigmático.
Não sei o que se passa em Espanha mas, se é como diz, ainda estamos muito longe deles também nesta campo.
E que tenho eu a ver com o facto de existir corrupção noutros locais?
Isso desculpa o que se passa aqui?
Submarinos, aviões, tanques, comboios, barcos, fardas, carros, motas, sucatas, centros comerciais, outlets, sem ser outlets, cursos, obras a mais, e mais tudo, mas mesmo tudo custa dez vezes mais, ou mais...
Não se ponha a desculpar estes tipos.
E estamos na miséria por causa desta cambada toda?
Meia dúzia de ladrões rouba o que milhões produzem!
"E que tenho eu a ver com o facto de existir corrupção noutros locais?"
Foi o António quem se referiu à Espanha ...
Seria um a zero para si se não tivesse desperdiçado o penalty.
O que eu disse foi que em Espanha combate-se, não disse que não havia.
Você diz que como há em todo o lado, nós também podemos ter.
Não falou no combate.
Está a ver o está acontecer no Kirguistão? E porquê?
Aqui devia ser igual, se quiséssemos.
Mas não se quer.
"Está a ver o está acontecer no Kirguistão?"
Alguma coisa boa?
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