ABRIL, 09, 2010
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Segundo Eduardo Lourenço, em entrevista concedida recentemente concedida ao Público, "Portugal não é um país fácil de governar", resumindo nesta afirmação as dificuldades com que o País se confronta e os bloqueios que se têm oposto à sua superação, sem vislumbre de saída. A propósito da crise da política, de confiança nas instituições, da justiça, afirmou Eduardo Lourenço:
"O mais difícil é poder justificar o disfuncionamento de um certo número de instituições basilares da sociedade, que fazem o crédito de uma democracia digna desse nome e que, de repente, entram elas próprias em crise e pervertem a normal vigência democrática a que estávamos habituados. Instalou-se, através de certos episódios que são muito mais do que faits-divers, a desconfiança sobre o sistema judiciário. Que é um pilar e um espelho da democracia, a referência ético-política de um Estado de direito. Os processos não têm fim. E isso já abala o normal funcionamento das coisas. Não se sabe o porquê desta disfuncionalidade."
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A esta incapacidade de resposta corresponde a fuga sebastiânica:
"É uma espécie de nostalgia perversa que reemerge de cada vez que há uma crise: ah, se estivesse aqui, realmente, um homem forte!"
"É uma espécie de nostalgia perversa que reemerge de cada vez que há uma crise: ah, se estivesse aqui, realmente, um homem forte!"
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Rejeitando o homem forte, Eduardo Lourenço, alerta para o afastamento dos melhores pela emergência das tecnologias da informação que subvertem as regras tradicionais da democracia: "Veja que já não é no Parlamento que se faz a política. É na televisão. E não são pessoas legitimadas para ter esse tipo de discurso de efeitos políticos. É gente que tem um privilégio de que nem sequer se dá conta: têm uma espécie de pelouros e funcionam como os verdadeiros detentores do poder de opinião. Não sei onde é que isso vai levar mas é uma perversão. Quem não tiver expressão mediática não existe. É isso que afasta os melhores? "
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A finalizar, Eduardo Lourenço, volta-se para a Europa: "No fundo, o único país que seria capaz de fazer outra vez desta Europa um actor a sério é a Inglaterra. Ela teve a visão do globo. Foi o único império moderno que realmente existiu. Para mim, a grande desilusão foi o papel da França. Não consegue dar a volta... A França foi o paradigma de tanta coisa. Foi uma espécie de Europa antes da Europa. Isso desapareceu em 50 anos. Perdeu-se o privilégio da língua que era a língua das elites. Perderam em Waterloo e perderam sobretudo em 1940. Têm elites fantásticas mas não têm nenhuma ambição. Como nós, não sabem o que hão-de fazer. É por isso que uma parte da Europa, se tiver de escolher, escolhe a América. Se houver aqui uma ameaça a sério, escolhe a América."
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A finalizar, Eduardo Lourenço, volta-se para a Europa: "No fundo, o único país que seria capaz de fazer outra vez desta Europa um actor a sério é a Inglaterra. Ela teve a visão do globo. Foi o único império moderno que realmente existiu. Para mim, a grande desilusão foi o papel da França. Não consegue dar a volta... A França foi o paradigma de tanta coisa. Foi uma espécie de Europa antes da Europa. Isso desapareceu em 50 anos. Perdeu-se o privilégio da língua que era a língua das elites. Perderam em Waterloo e perderam sobretudo em 1940. Têm elites fantásticas mas não têm nenhuma ambição. Como nós, não sabem o que hão-de fazer. É por isso que uma parte da Europa, se tiver de escolher, escolhe a América. Se houver aqui uma ameaça a sério, escolhe a América."
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De entre as várias reflexões que a entrevista suscita, há uma que resume as inquietações de Eduardo Lourenço sobre Portugal e os portugueses: Serão os portugueses ingovernáveis?
De entre as várias reflexões que a entrevista suscita, há uma que resume as inquietações de Eduardo Lourenço sobre Portugal e os portugueses: Serão os portugueses ingovernáveis?
Eduardo Lourenço não afirma que os portugueses são ingovernáveis mas que Portugal não é fácil de governar, o que seria sensívelmente diferente se essa dificuldade decorresse de constrangimentos do Portugal físico e não do Portugal sociológico como parece ser o caso. A disfuncionalidade que arrasta a opinião pública para a desconfiança no sistema judiciário, mesmo que não se conheçam as suas causas, seguramente não poderão ser atribuidas à terra mas ao homem.
Pelos argumentos parece poder deduzir-se, então, que, para Eduardo Lourenço Portugal não é fácil de governar porque os portugueses são difíceis de governar.
Serão?
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(continua)
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