Thursday, April 29, 2010

MAIS UMA AUTO-ESTRADA PORQUE SIM

Seria bom que nos explicassem melhor isto: Quando por todo o lado se ouvem as sirenes do perigo de ataque dos especuladores já em cima de nós, quando o novo líder do PSD se reune com o PM e se mostram concordantes com a estratégia de defesa contra as ameaças ao nosso reduto, impertubável o governo avança com uma nova auto-estrada* que o País poderia (e deveria) perfeitamente dispensar neste momento de crise económica e financeira gravíssima.
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A oposição a estes investimentos, que foi anteriormente o argumento de combate à política do governo mais utilizado pelo PSD, para além da famigerada asfixia democrática, foi completamente ignorada na declaração conjunta do PM e do líder do PSD. Por resignação a um facto consumado?
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Defendi, e continuo a defender, que a crise impõe o suporte de uma maioria democrática.
Disse, e continuo convicto, que o PR nunca deveria ter dado posse a um governo minoritário monopartidário sem esgotar todas as diligências possíveis para a nomeação de um governo maioritário pluripartidário, à esquerda ou à direita. Entretanto, o agravamento das circunstâncias que recomendavam um governo de coligação (uma prática generalizada na União Europeia) tornou mais premente aquele requisito para uma imagem de credibilidade na realização das medidas que o enfrentamento da crise exige.
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Uma base de sustentação suficientemente alargada só será, se vier a acontecer, uma condição necessária para a superação da crise. Mas não suficiente.
A suficiência decorre, além do mais, de uma conciliação de objectivos e meios entre os partidos e parceiros sociais que ainda está longe de acontecer.
A decisão do governo anunciada hoje de avançar com a auto-estrada do pinhal interior no dia seguinte à reunião com o líder do PSD, sem que nada acerca do assunto tenha sido abordado na declaração conjunta, não prenuncia nada de bom.
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E, como sempre, o TC continua a ser o último a saber.
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*Auto-estrada de 1429 milhões avança
O maior e o mais caro empreendimento rodoviário foi ontem formalizado entre o consórcio liderado pelo grupo Mota-Engil e 11 bancos. Processo segue para o Tribunal de Contas.

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