Thursday, April 15, 2010

CHAMARAM-LHE UM FIGO*

Gosto do futebol como espectáculo quando, como qualquer espectáculo, é bem desempenhado. Mas não vejo nos artistas da bola mais do que isso: alguém que é pago para realizar um desempenho numa equipa. Um futebolista profissional (jogador é, do meu ponto de vista, uma designação consagrada mas desapropriada) é um mercenário: luta em cada momento pelo emblema que melhores condições lhe oferece. Hoje está no Sporting, amanhã poderá ser profissional do Barcelona, depois do Real Madrid, do Inter, como Figo.
Arrumadas as botas, se foi bem sucedido como futebolista, continuará a facturar vendendo a sua imagem. Até aqui nada criticável, pelo menos para aqueles, que como eu, nunca viram nele para lá do artista, um bom artista, um ídolo.
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Espanta-me, portanto, por um lado, que o contrato que Figo assinou com a Tagus Park esteja a ser objecto de um processo de corrupção e, por outro, que havendo suspeitas desse crime, Figo tenha sido ilibado por desconhecimento seu da configuração da outra parte contratante.
A haver corrupção ela não poderá ter ocorrido pelo simples facto do contrato, tão normal como muitos outros que Figo já assinou mas de quaisquer contrapartidas que, prejudicando o Estado, directa ou indirectamente, beneficiaram terceiros.
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A ilibação do futebolista com base no seu desconhecimento de que os interesses do Estado estão envolvidos na Taguspark é simplesmente ridícula. Figo não é tonto nenhum e só um tonto desconhece com quem contrata. A menos que seja ludibriado pela outra parte, mas essa não foi a justificação da ilibação.
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Estamos, portanto, perante um caso jurídico, como muitos outros que acontecem em Portugal, que supera o mais elementar senso comum: Três administradores são acusados de corrupção passiva num processo em que a outra parte é ilibada por desconhecer com quem contratava. Mas como é que alguém suborna alguém que é considerado inocente? Se houve corrupção quem corrompeu quem e para quê?
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A justiça, pelos vistos, e como é habitual, ainda não sabe e provavelmente nunca saberá.
Na praça pública sabe-se, e como de costume, o julgamento já foi feito.
As sociedades não vivem sem justiça e, quando a justiça não funciona, funciona a justiça popular.
Quanto ao Figo, caiu do pedestal onde os idólatras o tinham colocado
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*Rui Pedro Soares teve conhecimento prévio de elogios de Figo a Sócrates
Os elogios que Luís Figo fez ao Governo e a José Sócrates em Agosto foram comunicados a Rui Pedro Soares, administrador da PT e da Taguspark, na véspera da sua publicação no "Diário Económico".
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