Invoca-se o Estado a propósito de tudo e de nada e o estado amoucha. Pudera, o Estado é cego, surdo e mudo. Para uns é causa de desleixo, desperdício e calanzisse, para outros o santo e a senha para um mundo melhor. O Estado, esse, está por tudo. Que o roubem ou o incensem, tanto lhe dá.
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Ouvi ontem que o presidente dos CTT, em contraponto com as directivas do governo e as imposições da conjuntura, defende o aumento dos salários da empresa a que preside. Que, por enquanto, pertence ao Estado. E que o governo se propõe privatizar, em que parte ainda não se sabe. Contra a privatização dos CTT levantaram-se, à esquerda, à direita, e ao centro, argumentos que vão desde a provável perda daquele serviço público em alguns cantos do país até à perda de dividendos superiores ao juros da dívida que poderia ser abatida com a venda, parcial ou total, daqueles activos.
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Admitamos que, apesar dos argumentos, o governo acaba mesmo por vender.
E admitamos que o novo conselho de administração, já com representantes dos accionistas privados, dá instruções ao CEO da empresa para conter as despesas e não aumentar os salários.
Alguém acredita que o CEO se atreveria a fazer declarações públicas que contrariassem as indicações dos accionistas? E que se as fizesse continuaria no cargo? Ninguém acredita, porque seria surrealista e as empresas não se governam com tal estilo.
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Estamos, portanto, perante uma situação que pode prenunciar um futuro isotérico em Portugal:
O de o movimento grevista que se avizinha ser encabeçado pelos presidentes e directores gerais das empresas, institutos e serviços do Estado. Há já alguns precedentes, aliás.
Em Portugal até um governo, o do senhor Almirante Pinheiro de Azevedo, entrou um dia em greve.
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