Fernando Alexandre
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Discordo do seu parece porque se de alguma coisa temos certeza é de que falta mesmo. Se assim não fosse, estariam reunidas as condições para uma conveniente coabitação da economia portuguesa no euro. Faltar, falta mesmo, resta saber o quê.
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E esta dúvida é tão intrigante quanto urgente é a sua solução.
Intrigante, porque repetidamente se tem dito que chegámos a esta situação porque não fizemos em tempo oportuno o que deveríamos ter feito; urgente, porque repetidamente se tem dito que a situação é insustentável. Virá o PEC anunciado para breve dar a resposta que se precisa. Provavelmente dará resposta a um imperativo (reduzir o défice e o crescimento da dívida) sem resolver o problema de fundo: a crescente anemia de uma parte (ainda) importante do tecido económico.
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Vários economistas se têm debruçado sobre a questão mas observa-se uma certa renitência na passagem do diagnóstico para a terapêutica. Um bom diagnóstico não é nunca o diagnóstico óptimo, passe o cliché.
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Pedro Lains afirmava há dias num artigo que referiu no seu blog que a solução não está na adopção de reformas estruturais*:"Ponham em cima da mesa um caso de crescimento com base em reformas estruturais.” Fiquei perplexo.
E mais perplexo fiquei quando no mesmo artigo (Fomos enganados) Lains conclui “O resto da história passa pela constatação de que o engano foi descoberto e que é tempo para encontrar a verdadeira solução do problema. Qual é ela, ninguém sozinho sabe. Mas é para a encontrar que pagamos os gabinetes e os funcionários onde estas coisas se discutem e os problemas se encontram”. A contradição não poderia ser maior, penso eu. Por um lado recusa que as reformas estruturais possam ser a resposta, por outro, entrega aos funcionários o encargo de resolver o assunto.
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Ontem, Luciano Amaral, no The Portuguese Economy ( My problem with austerity) punha em causa a solução austeridade invocando, e bem, que uma terapêutica para os problemas imediatos não é solução perdurável. Mas acerca desta nada disse.
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Hoje, Ricardo Reis, também no The Portuguese Economy compara a economia portuguesa com a de alguns Estados dos EUA (The Portuguese economy is more flexible than the U.S). E conclui que existe flexibilidade na solução dos nossos problemas sobretudo nos modelos teóricos de alguns ilustres prescritores, que não contemplam os impactos políticos e sociais porque se debruçam sobre uma realidade distante dos seus autores.
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Hoje, Pedro Lains, escreve sobre os transaccionáveis, um conceito de que ele desconfia por não lhe conhecer os limites (Non-tradables). E conclui que convém analisar a sua dimensão, ficando-se por aí.
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Precisamos, realmente, de estruturar um modelo de coabitação da economia portuguesa no euro. Precisamos dele desde que entrámos no SME mas esquecemo-nos disso. Agora que a casa foi arrombada é forçoso colocar trancas na porta.
Precisamos, realmente, de estruturar um modelo de coabitação da economia portuguesa no euro. Precisamos dele desde que entrámos no SME mas esquecemo-nos disso. Agora que a casa foi arrombada é forçoso colocar trancas na porta.
Quem é que diz como é que isso se faz sem dor?
Pela minha parte tenho colocado alguns apontamentos no meu caderno. Muitos anos de trabalho obrigaram-me a reflectir sobre uma solução sempre que me deparo com um problema. Por mais tosca que seja, se o engenho não é suficiente para descortinar outra mais subtil.
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*No Expresso de hoje, Rui Ramos escreve: Que resta experimentar? Talvez as "reformas estruturais" que o Bloco Central não fez - nem nenhum Bloco Central poderá fazer. (...) O consenso que houver para aplicar um PEC não chegará para o resto, que hoje é tudo. Só umammaioria reformista poderá fazer reformas: haverá socialistas que, individualmente, poderão entrar nessa maioria mas não o PS.
Com que sonha Rui Ramos?
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