Saturday, March 06, 2010

FLEXIBILIDADES

"Quase todos os economistas concordam que os países europeus têm leis laborais rígidas e maior protecção interna das suas produções".
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Começa deste modo The Portuguese economy is more flexible than the US. de Ricardo Reis, um dos autores de The Portuguese Economy.
Pelo título do artigo, logo se conclui que RReis, tem uma opinião contrária: Mesmo a economia portuguesa é mais flexível que a dos EUA.
Um situação de um contra todos é sempre excitante. Vejamos o que afirma RReis em defesa da sua posição: "Parece consensual que Portugal tem de reduzir a despesa e aumentar impostos para
eliminar o seu défice orçamental. Mas não será também isso verdade para a Califórnia? Não está a Califórnia mais perto do colapso e não se confronta com esse problema há mais tempo do que Portugal? Portugal aumentou impostos várias vezes nos últimos 10 anos, reduziu o seu défice de 6,1% para 2,7% entre 2005 e 2008 , e aumentou a idade da reforma resolvendo parcialmente a insuficiência de financiamento da Segurança Social. Comparados com os legisladores em Sacramento os políticos portugueses são uns santos de virtude fiscal e flexibilidade."
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RReis compara depois Portugal com o Michigan a propósito da falta de competitividade de largos sectores da economia portuguesa e das propostas de redução de salários como forma de recuperação da competitividade perdida. Em Detroit (Michigan), a quebra de competitividade da indústria automóvel é um pesadelo mas uma proposta de redução de salários em 10% seria liminarmente ridicularizada. Comparando a evolução dos salários e das taxas de desemprego num caso e noutro, algumas regiões dos EUA estariam muito mais carenciadas de um choque terapêutico.
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Relativamente à proposta avançada por alguns de uma saída temporária do euro seguida de uma desvalorização da moeda, RReis afirma não se recordar de uma proposta idêntica para o Massachusetts nos anos 90 ou para o Kansas nos últimos 30 anos. E a razão é simples: Uma cessão, ainda que transitória de um Estado dos EUA, provocaria uma guerra civil.
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Muita gente conhecida passa por Portugal e receita fórmulas para aumentar a produtividade da economia portuguesa. Paradoxalmente, o Estado de West Virgínia não merece uma atenção semelhante desses prescritores ilustres pelo que, deduz RReis, as produções portuguesas parecem sugerir uma flexilidade não consentida em alguns Estados dos EUA.
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Conclui RReis que existe, obviamente, uma interpretação diferente: A de que a flexibilidade existe sobretudo nos modelos teóricos, que não contemplam os impactos políticos e sociais porque se debruçam sobre uma realidade distante dos seus autores.
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Uma conclusão simpática. Mas que não nos serve de grande coisa.
Porque nunca os problemas dos outros foram solução para os nossos.

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