Friday, December 11, 2009

POR UMA CAIXA DE ROBALOS

O que é que pode levar uma jornalista a convidar um banqueiro suspeito* de tráfico de influências para uma longa entrevista no principal canal da televisão do Estado? E o que é pode levar o banqueiro suspeito a aceitar o convite? Não sabemos mas podemos, porque somos convidados por eles, a suspeitar.
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A jornalista entende que o seu entrevistado é suficientemente conhecido, é uma figura pública, qualquer que seja a razão, boa ou má, da sua exposição pública, supostamente envolvida num caso, banal em Portugal, de corrupção e tráfico de influências. Ingredientes suficientes para alimentar a curiosidade dos senhores telespectadores. O banqueiro suspeito aceita porque vê na entrevista uma ocasião única para se dizer inocente perante um júri de vários milhões de pessoas, convocado para comparecer em tribunal popular.
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Não sei, nem cuidei de saber o que pensam os restantes membros do júri. O que eu sei é que, inevitavelmente, a entrevista não pode deixar de ter suscitado um julgamento colectivo quando decorre em tribunal (impopular) um processo onde o banqueiro suspeito será julgado ou não. Antecipando um julgamento popular ao julgamento (impopular), o banqueiro suspeito terá pretendido ficar julgado popularmente desde já. Se foi esse o seu objectivo, atingiu-o, porque eu acredito que a esmagadora maioria daqueles que o viram e escutaram formulou um juízo (popular) a seu respeito.
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Favorável? Desfavorável? Um tribunal popular é sempre um sítio onde os juízes não se prendem apenas às provas de facto mas aos indícios. É um tribunal de jurados desconfiados. Onde o tribunal (impopular) pode não encontrar provas incriminadoras o tribunal popular, porque julga pelos indícios, é menos sonso e não vai em cantigas.
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Diz o banqueiro suspeito que o seu amigo, de quem nunca recebeu favores mas a quem prestou favores, ia a passar decidiu subir ao seu gabinete. O banqueiro supeito recebeu-o, porque, diz ele, fez isso incontáveis vezes com centenas de pessoas. Pelo simples prazer de por as pessoas em contacto umas com as outras. Ouvindo isto, um juiz (impopular) ouvirá a acusação e a defesa, consultará os códigos e ficará sem razões para manter o banqueiro sob suspeição e mandá-lo-á em paz, e que o senhor seu amigo o acompanhe.
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O tribunal popular pensa de outro modo: É uma história mal contada, Armando. Nem todos os portugueses são tão gebos como julgas. Se era para contar aquilo mais te valia teres ficado em casa à espera do julgamento (impopular). Que, se tudo correr como é costume em Portugal, acabará por te ilibar por falta de provas ou mandar arquivar por prescrição de prazo.
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*Vara reafirma inocência e insiste na libertação do segredo de justiça
Vídeo: "Não falei a José Sócrates sobre a carta" anónima
Vara não avisou Sócrates sobre escutas telefónicas
Encontro com Godinho no BCP "foi fortuito"

2 comments:

António said...

Há coisas que parecendo más acabam por ser positivas. Refiro-me aos bons exemplos. À recompensa desinteressada por um serviço, uma ajuda ou um conselho.
Há pouco, andava eu a tratar do jardim, quando parou um carro e o condutor me pediu uma informação sobre a localização da capela aqui do lugarejo.
Lá lhe indiquei o melhor caminho e como paga ofereceu-me duas pescadas n.º 5.
Isto porque eram só 50 metros, se fosse mais, era capaz de me dar a caixa toda.

Rui Fonseca said...

Tem toda a razão, António.
Por este andar, um dia destes, só por dar os bons dias ao vizinho é bem possível que ele nos mande entregar a mulher dele em nossa casa.