O jornalista pergunta ao PR "o que pensa sobre a aprovação pelo Governo de uma proposta que visa permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo." Respondeu o PR que a sua atenção estava no desemprego, no endividamento do país, no desequilíbrio das contas públicas, na falta de produtividade e de competitividade". Ouvido um dirigente socialista*sobre a questão, afirmou este: "O Presidente da República, como qualquer cidadão português, tem a liberdade de ter a sua posição pessoal relativa ao diploma respeitante à legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mas já não terá o direito de se intrometer na agenda dos partidos políticos e, no caso vertente, do PS" .
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Leio e pasmo com tanta incongruência e petulância em tão poucas palavras.
Para o dirigente socialista em causa o PR tem liberdade de ter posições pessoais acerca de tudo e mais alguma coisa mas terá de exprimi-las quando for interrogado. Se lhe perguntam o que pensa o PR acerca de, o PR não pode dizer que está mais preocupado com. No caso vertente, o PR só teria quatro alternativas à resposta que deu:
que não pensa nada;
que ainda não pensou;
que pensou e discorda;
que pensou e concorda.
Mas se não pensou ou vai pensar, estará a secundarizar o assunto sobre o qual é interrogado e, deste modo, a intrometer-se na agenda do PS; se pensou e discorda estará a intrometer-se na agenda do PS; se pensou e concorda, estará a intrometer-se na agenda dos que se opõem. Não tem outra saída. É, inevitavelmente, um inconstitucionalmente intrometido.
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Eu tenho outra saída. Quando tiver de responder ou escrever o meu estado civil esclareço: "casado com mulher".
E espero não interferir na agenda de ninguém.
Decididamente, o PR é um português em liberdade condicional.
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8 comments:
" Mas já não terá o direito de se intrometer na agenda dos partidos políticos e, no caso vertente, do PS"
Boa noite.
Relativamente ao anormal, ao mentecapto que disse isto eu pergunto:
porque seria que Deus, quando fez o mundo, plantou os cretinos todos aqui?
E porque seria que foram todos para aquele partido e lhes deu o dom da fala?
"Relativamente ao anormal, ao mentecapto que disse isto"
Caro António, boa noite!
Sejamos tolerantes. A quadra que atravessamos deve ser de compreensão e de diálogo.
Por sermos tão tolerantes é que estamos como estamos.
Por causa de imbecis como este, o Natal de MUITOS Portugueses, não será um Natal, será um natal.
É desses que eu me lembro e a quem dou compreensão e algo mais que possa.
«o Presidente da República foi questionado pelos jornalistas sobre a aprovação pelo Governo de uma proposta de lei que visa permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na resposta, o chefe de Estado disse que a sua atenção estava no desemprego, no endividamento do país, no desequilíbrio das contas públicas, na falta de produtividade e de competitividade».
Não há respostas inocentes e eu, antes de qualquer reacção do PS à resposta do PR à pergunta do jornalista logo me veio à cabeça que não era muito adequada, porque ela equivale a dizer 'tenho mais com que me preocupar', ou seja desprezo, e até critica, à agenda do PS/Governo.
Não concordo com as tuas 4 hipóteses de respostas possíveis, pois bem podia ter dito:'é uma proposta do Governo que, em devido tempo, vou analisar'(podendo, ou não, dar a sua posição sobre o assunto).
Haverá muitos cidadãos, nos quais eu me incluo, que concordam com a resposta do PR (de haver muitos assuntos de momento bem mais importantes).Isto não retira legitimidade ao Governo de definir a agenda governativa e mal fica ao PR emiscuir-se nela. Relativamente ao 'porta-voz' do PS não é como diz o António(como sempre radical nas suas mesmo assim interessantes opiniões) um 'anormal e mentecapto',e não é preciso invocar a quadra natalícia para o
desculparmos pois trata-se de um político com boas provas dadas até no PE, com posições sobre a matéria já há muito tempo bem definidas e com as quais eu até discordo.
Caro Rui Fonseca,
Compreendo o seu ponto de vista em relação aos comentários do dirigente do PS, mas parece-me que está a atribuir uma ingenuidade ao Presidente; que ele bem pode continuar a tentar vender, que já ninguém compra.
Caro Francisco,
Caro José Costa e Silva,
Não me custa reconhecer que por dtrás da resposta de Cavaco Silva estava ímplícita a sua posição acerca da questão que lhe foi colocada.
Mas também, penso eu, não custa reconhecer que a grande maioria dos portugueses se revê na resposta dele: de que Portugal enfrenta problemas tão graves neste momento que a questão dos casamentos gay é, forçosamente, secundária.
E pode ser entendida como uma forma de divertir as atenções dos portugueses desses problemas graves que nos rodeiam sem que muitos se apercebam, por enquanto, disso.
Por outro lado, a invocação de que o assunto (casamento gay)era um dos compromissos do governo, não resiste a algumas observações:
1- Não é por ter sido uma das propostas eleitorais do PS que lhe dá, só por esse facto, legitimidade para ser aprovado. Muitos, se não a grande maioria, votaram no PS por outras razões;
2 - Ao PR assiste o direito de ter opinião. Se a explicitasse claramente desde já seria acusado de influenciar o voto; não o fazendo, e dizendo que na altura própria se veria, teria também uma leitura implícita.
Salvo melhor opinião, quando se pede a opinião a alguém, qualquer que seja a resposta do interrogado ela transmite uma opinião acerca de quem abre a boca, ou não a chegue a abrir.
Se me permite, respondo ponto por ponto:
1 – Bom, então isso é o fim. E agora me lembro que quando eu fiz um post a desvalorizar os programas de Governo em campanha, o Rui Fonseca, salvo erro, tinha outra opinião: os programas de Governo, ou as “propostas”, para si, tinham relevância.
Se for para não legitimarem o Governo a legislar, então não têm relevância nenhuma.
2 – É verdade, por isso não é preciso tanta discussão por causa de um tema tão irrelevante. Se os homossexuais querem o casamento, a sociedade dá e o país segue em frente. Ou será que o tema até é relevante e quem está contra quer é engonhar com a conversa dos “temas mais importantes”?
3 – Eu, se fosse Presidente, teria dito: “o Governo aprovou o diploma, que agora segue o seu percurso constitucional até à entrada em vigor. Sobre o tema em concreto, quer do ponto de vista social, quer do ponto de vista político, reservo a minha opinião para mais tarde”.
4 – Pela minha parte, não quero um PR apolítico. Gostava, isso sim, de um PR apartidário.
Caro José Costa e Silva,
Obrigado pelos comentários. E, sobretudo, pelo seu desacordo.
1 -" os programas de Governo, ou as “propostas”, para si, tinham relevância."
E têm. Não concebo uma campanha eleitoral séria que não se desenrole à volta de uma discussão de programas. Mas um programa é um conjunto de propostas e a minha adesão a um programa não implica a minha adesão a todas elas. Admito que para um partidário a adesão seja incondicional e total. Para mim, nunca foi. Nem vai ser.
2 - "Ou será que o tema até é relevante e quem está contra quer é engonhar com a conversa dos “temas mais importantes”?
É relevante mas não é dos mais relevantes. Por outro lado, há muito tempo que escrevi no Aliás o meu acordo à oficialização das uniões homosexuais e lésbicas. O que não concordo é que lhe chamem "casamento". Em Direito, e não só, a realidades diferentes devem atribuir-se nomes diferentes. Só isso.
3 - A resposta do PR, qualquer que ela fosse, seria criticada. Até mesmo se nada dissesse. Mas o que ele disse foi aquilo que a grande maioria dos portugueses pensa.
4 - " Pela minha parte, não quero um PR apolítico. Gostava, isso sim, de um PR apartidário."
Não penso que tenha sido partidário. Trata-se de uma questão que é transversal aos partidos.
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