Um dia, o António, já farto de ouvir e não perceber o Emídio, disse-lhe:
- Ó Emídio, importas-te de explicar isso de forma que tu percebas?
Ocorreu-me esta cena mais uma vez, ontem, ao ouvir os convidados do Prós e Contras.
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Tema: 8% de défice - É a estimativa do Governo.O alarme soa de novo - O desequilíbrio das contas públicas é o maior desde a entrada na CEE. Depois da aprovação do segundo Orçamento Rectificativo, o maior debate da televisão faz o balanço das finanças do país.
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O défice, que não será de 8% mas talvez superior a 10%, se forem consideradas as responsabilidades do Estado tacticamente desorçamentadas, até nem é o maior problema. O perigo está no endividamento externo e muito sobretudo no ritmo seu crescimento de 10% ao ano, claramente insustentável a médio prazo. Todos de acordo.
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E que fazer? pergunta insistentemente a moderadora do programa.
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Porque a Justiça, porque o Código do Trabalho, porque a Educação, porque se privilegiaram os sectores não transaccionáveis e se esqueceram os outros, porque se abandonaram a agricultura e as pescas, porque há funcionários públicos a mais, porque a corrupção se alimenta da burocracia, porque a lei das rendas, porque já chega de auto-estradas, porque um governo minoritário nestas circunstâncias. É preciso, concluem, que os portugueses estejam conscientes destes problemas, que lhe afundarão o barco se não forem tomadas as medidas convenientes.
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Mas que medidas, senhores? Que medidas pode tomar o cidadão comum?
Alguns portugueses ouvem e vão deitar-se tarde e ainda mais preocupados sem ouvir nada de novo. O que é que eles podem fazer? Os convidados falaram bem, sim senhor, mas entenderão eles próprios aquilo que dizem?
2 comments:
Rui,como sabes, ignorante como sou destas esquisitas (e confusas) economias, mas no propósito de andar informado assisti pacientemente a todo o debate. E digo pacientemente porque, páginas tantas, parecia-me mais que estavam a serrar presunto do que a sugerir soluções para a crise, sendo esta o único ponto em que
convieram.Uma pobreza de debate.
(Aquela do 'ó Emídio, importas-te de explicar isso de forma que tu percebas' istá de matar. Fez-me lembrar uma cena na minha transmontana aldeia onde havia dois falares:o normal do povo e o falar 'fino' da cidade.Perorava eu, convencido jovem estudante, sobre já não sei que banalidades quando o meu tio Jaquim Zé me interrompe: 'ó home fala que t'intenda').Eu lá entender entendi-os só que fiquei como o brasileiro que sentenciou: 'falou mas não disse'.
Vá lá que houve momentos de humor como aquele em que o Salgueiro propopõe que a solução pode estar em saturar os telemóveis de SMS. Palavra que,esquecendo o prejuizo que podia causar ao descanso dos vizinhos,não contive estrondosa gargalhada.
Quando era religioso nas missas rezava-se pelos nossos governantes : 'que Deus os ajude'.
Agora apetece-me dizer 'que Deus lhes perdõe'.
Para não me agitar no sono fui retemperar-me na (re)leitura de trechos da "República" de Platão.
Caro Francisco,
O que melhor retive da intervenção de Salgueiro foi o paralelo que ele fez entre a indolência consciente que dominava Portugal uns anos antes do 25 de Abril relativamente às colónias (todos sabíamos que alguma coisa acabaria por acontecer mas o regime mantinha-se inamovível)e a situação de agora: sabemos bem que a situação é insustentável mas nem o governo nem as oposições descalçam dos tamancos em que se enfiaram.
Continuarão em campanha eleitoral até ao dia em que do exterior nos obrigarão a tomar juízo.
É um paralelo em que também tenho pensado muitas vezes.
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