Sunday, November 23, 2008

UMA HISTÓRIA MUITO MAL CONTADA

Um homem, que foi Ministro e é Conselheiro de Estado, e que há muito tem um pé na política e o resto no mundo dos negócios, embarcou há anos com um companheiro de partido, e seu colega no governo, como Secretário de Estado, numa aventura de banqueiros que, como pareciam ser todas as aventuras de banqueiros, estava destinada a deslumbrar o mundo com imparáveis sucessos. Por razões que começa agora a saber-se porquê, a aventura deu com os burrinhos na água e o ex-Secretário de Estado está em prisão preventiva.
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É quando a bronca rebenta que começam as tricas das comadres. Com o parceiro em maus lençóis, adianta-se o ex-Ministro, que durante anos andou mudo e quedo como um penedo, a pedir para ser ouvido na AR. Não foi ainda, mas vai ser, segundo as últimas notícias. Entretanto, desdobrou-se em declarações às televisões, uma coisa que ele queria e as televisões agradecem porque os telespectadores se lambem com os escândalos.
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E o que disse o ex-Ministro, homem de negócios e Conselheiro de Estado, além do mais?
Que em 19 de Abril de 2001 tinha falado com o vice-governador do Banco de Portugal, responsável pela supervisão do sistema bancário, com a intervenção de um outro ex-Ministro, também seu companheiro de partido e ex-governador do Banco de Portugal, que confirma a intervenção mas diz ignorar as razões dela, para dizer ao vice-governador que o ex-Secretário de Estado, presidente do grupo financeiro onde o ex-Ministro era administrador, tinha uma forma de governo do grupo muito original que mereceria mais atenção da supervisão do Banco de Portugal. Até porque, teria invocado o ex-Ministro, ele próprio tinha no grupo parte considerável das suas consideráveis poupanças e andava, portanto, preocupado. Se bem repararmos no argumento percebemos que ele pode ter duas interpretações mas o ex-Ministro escolhe agora aquela que lhe convem.
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O ex-vice governador do Banco de Portugal apressou-se a dizer que o ex-Ministro o teria procurado, sim senhor, para reclamar o excesso de supervisão a que o Banco de Portugal estava a sujeitar o banco onde ele, ex-Ministro, era administrador.
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Quem ouve isto não pode deixar de pensar que o ex-Ministro mente ou joga com as palavras. Porque, até pode ser verdade, mas é incrível que um administrador, accionista e depositante num banco, perante uma situação que o deixava alarmado, em vez de resolver o assunto em sede própria, isto é nos órgãos sociais do banco, e desde logo em conselho de administração onde tinha assento, tenha recorrido à intervenção de um companheiro partidário para ir dizer ao responsável pela supervisão que deveriam ter mais cuidado com a gestão do banco onde ele também era administrador.
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Não gruda, como se costuma dizer.
O PR, que o nomeou Conselheiro de Estado, tem obrigação de o demitir se ele, conforme parece, não está disposto a fazê-lo.
Ao PR não basta ser honesto.

4 comments:

A Chata said...

No tal relatorio do NIC:

#Some states in Africa and South Asia will disappear after failing to provide security for their people.
Others in Eastern or Central Europe could be taken over by organised crime."

http://english.aljazeera.net/news/americas/2008/11/200811211209635276.html

Países Europeus na mão de crime organizado!

Será que alguns não estarão já?

Rui Fonseca said...

"Países Europeus na mão de crime organizado!

Será que alguns não estarão já?"

Cara Amiga A.,

Penso que sim. O relatório, pelos vistos, prevê que poderão piorar.

Esperemos que sejam tomadas medidas que façam com que se enganem os autores do relatório.

Foi para isso que o fizeram, penso eu.

Rui Fonseca said...

A pressão para a saída de Dias Loureiro do Conselho de Estado está a aumentar. O próprio admitiu ontem que o poderá fazer se a polémica em que está envolvido "causar o mínimo incómodo" a Cavaco Silva.

Por seu lado, o Presidente da República (PR) não manifestou solidariedade para com o seu ex-ministro e tem-se recusado a comentar esta possibilidade. Segundo o "Público", o Chefe de Estado entende não ter poderes para demitir o conselheiro, mas esta é uma interpretação que, segundo o mesmo jornal, divide constitucionalistas.

Rui Fonseca said...

O comentário anterior foi retirado hoje, 25/11, do Público Online